A 11ª edição da Festa Literomusical de São José dos Campos (FLIM), que seria realizada neste fim de semana no Parque Vicentina Aranha, foi adiada para uma nova data ainda não divulgada. A decisão foi tomada pela Associação para o Fomento da Arte e da Cultura (Afac), organizadora do evento, após a saída da equipe curatorial e de diversos autores convidados em protesto contra o cancelamento da participação da jornalista Milly Lacombe.
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A controvérsia em torno do evento começou após a Prefeitura anunciar, na manhã de terça-feira (16), a exclusão da jornalista Milly Lacombe da programação. A decisão veio após viralizar nas redes sociais um trecho de uma entrevista em que a jornalista criticava o conceito de família tradicional – veja abaixo.
O conteúdo repercutiu entre parlamentares aliados ao governo municipal, que pressionaram a gestão a cancelar a participação da autora. Em nota publicada nas redes sociais, o prefeito Anderson Farias (PSD) afirmou que “a cultura em São José não é e nunca será palco político-ideológico” e disse não admitir esse tipo de posicionamento em eventos públicos da cidade.
A medida levou à saída da equipe de curadoria da FLIM, que classificou a decisão como arbitrária e contrária aos princípios de liberdade de expressão que nortearam o evento. As curadoras Alice Penna e Costa, Bianca Mantovani, Tania Rivitti e a assistente Bruna Fernanda anunciaram o desligamento, destacando que o tema desta edição era “Eu sou porque nós somos”, e que a intervenção política contradizia os valores da festa.
A retirada de Milly também provocou a desistência de diversos autores da programação, como Xico Sá, Noemi Jaffe, Christian Dunker, Helena Silvestre, Micheliny Verunschk, entre outros.
Em nota, a Afac afirmou que respeita a decisão da curadoria e dos autores que se retiraram, e reforçou o papel da FLIM como agente de promoção da cultura, da literatura e da economia criativa no Vale do Paraíba. A entidade confirmou que a saída de Milly Lacombe foi decidida “em comum acordo com a convidada”, com o objetivo de preservar a integridade de todos os envolvidos.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Milly Lacombe afirmou que recebeu ameaças de grupos extremistas após a repercussão de sua fala e que sua presença no evento representaria um risco à sua segurança.
“Eu ia para a feira fazer uma mesa muito linda, o tema era nós e o outro, ia ser, sem dúvida nenhuma, um debate muito rico, com o Cuti e o Xico Sá, meus amigos, dois escritores sensacionais. Mas um trecho de uma entrevista que eu dei para um podcast que eu gosto muito, foi, viralizou, ele foi manipulado, tirado de contexto, fizeram de um tudo com ele para que esse vídeo servisse à fúria, ao ódio da extrema-direita. Ele foi circular lá por outras bandas e aí a minha participação na feira passou a ser um risco à minha segurança”, declarou Milly.
Uma nova data para a realização da FLIM deve ser anunciada em breve pelos organizadores.
Posicionamento do Ministério da Cultura
O Ministério da Cultura (MinC) emitiu uma nota oficial repudiando a decisão da Prefeitura de São José dos Campos. No comunicado, o ministério classificou a exclusão da jornalista como um “grave caso de cerceamento à diversidade de pensamento” e lamentou que a situação tenha ocorrido em um evento cultural financiado com recursos públicos da Lei Rouanet.
A pasta afirmou que solicitará informações detalhadas ao proponente da 11ª FLIM para esclarecer os motivos objetivos que levaram ao cancelamento da participação de Milly Lacombe, ressaltando que a legislação veda avaliações com base em critérios subjetivos.
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