O discurso primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) ocorreu em meio a cadeiras vazias e protestos do lado de fora da sede, localizada em Nova York. Dezenas de delegações, incluindo a do Brasil, deixaram a sala antes da fala do premiê.
A saída das delegações ocorreu como crítica aos ataques israelenses contra a Faixa de Gaza, que já duram quase dois anos. Do lado de fora da sede, centenas de manifestantes comemoraram quando as delegações saíram do plenário. Os que permaneceram na sala, em sua maioria convidados de Tel Aviv, aplaudiram o líder israelense.
Netanyahu exibiu um broche com um código QR que, ao ser escaneado, leva a um vídeo com imagens dos ataques terroristas do Hamas que iniciaram a guerra. Na ocasião, 1.200 pessoas morreram e 251 foram feitas reféns. “Este site contém conteúdos extremamente difíceis de assistir do terrível massacre que o Hamas realizou no dia 7 de outubro”, diz um alerta da página.
Durante seu discurso nas Nações Unidas, o líder israelense criticou líderes ocidentais que reconheceram oficialmente a Palestina. Segundo ele, a medida passa a mensagem de que “matar judeus compensa”.
“Dar um Estado aos palestinos a uma milha de Jerusalém depois do 7 de Outubro é como dar um Estado para a Al Qaeda a uma milha de Nova York depois do 11 de Setembro. Isso é loucura, é insano, e nós não vamos fazer isso” afirmou Netanyahu .
O premiê também se defendeu das acusações de genocídio em Gaza, realizadas pela maior associação acadêmica mundial de estudiosos desse tipo de crime, de uma comissão contratada pela ONU e até mesmo de importantes ONGs israelenses. O presidente Lula, na última terça-feira (23), durante seu discurso na ONU, também classificou a ação israelense em Gaza como um genocídio.
Netanyahu afirmou que os ataques em Gaza miram a organização criminosa Hamas e não civis. Além disso, ele afirmou que Israel emite alertas de evacuação antes dos ataques. A medida já fez quase todos os 2,2 milhões de habitantes de Gaza fugir mais de uma vez ao longo do conflito.
Durante seu pronunciamento, Netanyahu voltou a utilizar mapas do Oriente Médio para ilustrar o que descreve como uma “maldição”: o Irã e os países onde atuam grupos apoiados e financiados por Teerã. Ele também utilizou cartões com perguntas em formato de quiz, destacando os adversários de Tel Aviv, e mencionou líderes assassinados nos últimos dois anos, como Yahya Sinwar, do Hamas, em Gaza; Hassan Nasrallah, do Hezbollah, no Líbano; e parte da liderança dos houthis, grupo rebelde do Iêmen. Além disso, ele se dirigiu diretamente ao Hamas:
“Abaixem suas armas, deixem meu povo ir. Libertem os reféns, todos eles, agora. Se o fizerem, vão viver. Se não, Israel vai caçar vocês”, disse.
Durante essa parte do discurso, ele também leu os nomes das vítimas que ainda permanecem em cativeiro sob o poder do Hamas e afirmou, em hebraico, que elas não foram esquecidas. “Não vacilaremos, não descansaremos, até que tragamos todos vocês para casa”, disse.
O premiê foi alvo de críticas, na última quinta-feira (25), por parte do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que precisou realizar seu discurso na assembleia por meio vídeo chamada por ter tido visto americano negado. Ele criticou a visão de um “Grande Israel”, conceito de expansão da nação sobre Cisjordânia, Gaza e partes de países vizinhos como Egito e Líbano defendido por Netanyahu, e reafirmou que a ANP reconhece o direito do Estado judeu de existir.
Além disso, Abbas disse que o conflito entrará para os livros de história como um dos capítulos mais horríveis dos séculos 20 e 21.
“O povo palestino em Gaza encara uma guerra de genocídio, destruição, fome e deslocamento travada pelas forças de ocupação israelenses”, afirmou.
Desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, as forças israelenses impuseram um cerco à Faixa de Gaza, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas. De acordo com as Nações Unidas, a população local enfrenta o risco iminente de uma “fome generalizada”. A ofensiva de Israel já resultou em mais de 65 mil mortos, em sua maioria civis, conforme informações do Ministério da Saúde do território palestino, atualmente sob controle do grupo extremista Hamas.
Os dados são considerados confiáveis pela ONU e não podem ser checados de forma independente devido ao bloqueio de Israel à entrada da imprensa internacional em Gaza.



