Em um movimento que soa quase como mágica, mas é pura ciência, o Brasil se firma na vanguarda da transição energética mundial. Cientistas brasileiros estão reescrevendo o destino do dióxido de carbono (CO₂), o vilão do efeito estufa, transformando-o em combustível para mover o futuro. O gás, antes apenas um subproduto indesejado de chaminés industriais, e escapamentos de carros, agora é matéria-prima para uma revolução silenciosa.
O mesmo gás que aquece o planeta, pode ser capturado de usinas ou até mesmo da atmosfera e convertido em metanol sustentável, o e-metanol, para impulsionar navios pelos oceanos, ou em gasolina e diesel verdes para abastecer os carros e caminhões que cortam nossas estradas. Essa não é uma aposta distante, mas uma realidade em desenvolvimento, crucial para limpar a matriz energética dos transportes, responsáveis por um quarto das emissões globais.
Duas frentes de inovação se destacam nesse cenário. Em uma delas, o Instituto de Química da USP, em parceria com a FAPESP e a Shell, debruça-se sobre o CO₂ liberado pelas usinas de etanol. Na outra, a energética Repsol Sinopec Brasil une forças com a startup nacional Hytron, com o objetivo ousado de produzir gasolina e diesel renováveis a partir do gás carbônico e do hidrogênio, diminuindo a concentração do CO2 na atmosfera e produzindo fontes renováveis de energia, ao invés do uso dos combustíveis fósseis
O engenheiro químico Pedro Vidinha, que lidera uma das pesquisas, nos lembra que a produção anual de 37 bilhões de litros de etanol no Brasil lança na atmosfera 28 milhões de toneladas de CO₂. Esse volume colossal desequilibra o delicado balanço do efeito estufa, semeia chuvas ácidas e polui o ar que respiramos. A ideia de capturar e reutilizar esse gás não é apenas uma solução elegante; é um exemplo concreto e urgente de como podemos combater as mudanças climáticas que já batem à nossa porta de forma alarmante. “Queremos apresentar uma alternativa tecnológica nacional aos investidores interessados em produzir e-metanol no Brasil”, diz Pedro.
O que vemos florescer é mais do que uma inovação tecnológica; é um ciclo virtuoso de economia circular, onde um resíduo poluente se converte em um recurso valioso. A pesquisa brasileira aponta para um caminho em que a economia e o meio ambiente caminham de mãos dadas. Para o Brasil, essa jornada significa mais do que apenas cumprir metas ambientais: representa a chance de diminuir a dependência de combustíveis fósseis importados, fortalecendo nossa segurança e estabilidade energética.
Essa iniciativa está em perfeita sintonia com os compromissos globais, como o Acordo de Paris, que clama pela redução de emissões para frear o aquecimento do planeta. Com uma matriz energética já consideravelmente mais limpa que a média mundial, o Brasil não apenas avança em sua agenda de descarbonização, mas também se posiciona como um farol para outras nações. Mostramos ao mundo que é possível, sim, colocar o bem-estar do planeta acima do lucro imediato, transformando um problema em uma promissora solução.



