Aquela queimação no peito após as refeições pode parecer um desconforto inofensivo, mas quando se torna frequente, pode indicar um problema mais sério: o refluxo gastroesofágico crônico.
De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Alexander Charles Morrell, a repetição dos sintomas deve ser levada a sério. “O refluxo constante pode inflamar o esôfago e, em casos mais avançados, provocar alterações celulares com potencial para evoluir para câncer”, alerta.
O refluxo acontece quando o conteúdo do estômago retorna ao esôfago por falha no esfíncter esofágico inferior, uma válvula que deveria impedir esse movimento. Quando ocorre com frequência, pode causar esofagite, dor no peito, dificuldade para engolir, regurgitação e outros sintomas que afetam diretamente a qualidade de vida. Segundo o especialista, “muitas pessoas só procuram ajuda quando os sintomas já estão intensos, mas o ideal é intervir antes que ocorram complicações”.
Quando é hora de procurar um especialista
Entre as possíveis complicações está o esôfago de Barrett, uma condição pré-cancerosa em que as células da mucosa sofrem alterações por causa da exposição prolongada ao ácido do estômago. “O esôfago de Barrett aumenta o risco de desenvolvimento do adenocarcinoma, um tipo de câncer de esôfago. Por isso, pacientes com refluxo crônico devem ser acompanhados e, em alguns casos, fazer endoscopia para detectar alterações precoces”, explica Morrell.
Mudanças no estilo de vida, como evitar refeições antes de dormir, reduzir o consumo de álcool e cigarro, controlar o peso e adaptar a dieta, são a base do tratamento inicial. Medicamentos como inibidores da bomba de prótons, antiácidos e pró-cinéticos também são eficazes na maioria dos casos. “Mas quando o tratamento clínico não resolve ou há sinais de complicações, a cirurgia pode ser necessária”, afirma o cirurgião.
Entre os procedimentos disponíveis, a fundoplicatura de Nissen é o mais comum, geralmente feita por videolaparoscopia ou cirurgia robótica, com recuperação rápida e menos dor. “A cirurgia é indicada principalmente em pacientes que não respondem bem ao tratamento medicamentoso, que têm esofagite grave, estreitamento do esôfago ou esôfago de Barrett com risco de evolução para câncer”, reforça.
Morrell destaca que cada caso deve ser avaliado individualmente. “O refluxo pode parecer banal, mas em alguns casos ele é o primeiro sinal de algo maior. Por isso, quem convive com sintomas frequentes deve procurar avaliação médica. Com o diagnóstico correto, é possível evitar complicações sérias e melhorar muito a qualidade de vida.”




