O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que as denúncias contra policiais militares que atuaram nas operações Escudo e Verão em 2023 e 2024, as mais letais da corporação desde o Massacre do Carandiru, são mentirosas.
Derrite criticou as posturas de entidades da sociedade civil que trabalham com a defesa de direitos humanos e também da imprensa profissional. Ele também minimizou as oito denúncias do Ministério Público contra 16 PMs que participaram de ocorrências com sete mortes e um ferido nas duas operações.
“‘Eles [policiais] prometeram matar 30’, é uma das coisas que foram noticiadas na época. Se existisse mesmo penalização por crime de fake news tinha muita gente que ia ser presa”, disse o secretário durante uma apresentação no Congresso de Operações Policiais, que ocorre em São Paulo desta quinta-feira (23) até sábado (25). “Denúncias infundadas. Vou repetir para vocês: denúncias mentirosas, infundadas, versus violência real.”
Juntas, a Escudo e a Verão deixaram um saldo de 84 pessoas mortas na Baixada Santista.
Atrás dele havia uma foto de uma manifestação organizada por famílias de vítimas da Operação Escudo. A frase faz referência a mensagens que circularam em redes sociais de PMs, e também de moradores da Baixada Santista, após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, 30, no fim de julho de 2023. As mensagens comemoravam mortes e falavam em retaliação contra a morte do policial.
Questionado sobre as oito denúncias do Ministério Público contra policiais que afirmam que pessoas desarmadas foram mortas, e que os agentes tentaram alterar as cenas de ocorrência e bloquearam as lentes de câmeras corporais, Derrite afirmou que a ampla defesa e o devido processo legal devem ser garantidos antes de afirmar que houve ilegalidade.
“A partir do momento que existe uma denúncia, o policial tem direito a ampla defesa, ao contraditório, o advogado dele vai defender, ele vai apresentar as razões. Lá no final, depois de tramitar na primeira instância, na segunda, depois do trânsito em julgado, aí sim você pode afirmar [que houve crime nas mortes praticadas pela polícia]”, disse o secretário, durante uma entrevista coletiva após a apresentação.
Questionado se estaria disposto a reconhecer que houve excessos nas operações caso ocorra alguma condenação de policiais militares, Derrite disse que não irá contestar nenhuma decisão judicial. Além disso, ressaltou que tem respeito pelos policiais que foram denunciados pelo Ministério Público.
“Você já me viu contestando alguma decisão judicial? Nem vai ver”, ele disse. “Eu só tenho muito respeito aos policiais que estão respondendo a esses processos. Em muitos e muitos casos, a opinião pública acabou influenciando na condenação de agentes públicos. Eu não vou cometer esse equívoco.”
Durante a apresentação, o secretário exibiu o rosto de Allan de Morais Santos, morto aos 36 anos durante a Operação Verão, atribuindo a ele uma participação no crime organizado da Baixada Santista. Dois policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) foram denunciados pela morte de Allan.
Segundo a denúncia, feita principalmente com base nos vídeos de câmeras corporais, o suposto confronto com ele foi simulado pelos PMs. Uma das gravações mostrou o momento em que um tenente da PM se aproxima do corpo de Allan, menos de um minuto após ele ser atingido por tiros dos policiais. A comparação de diversas gravações indica, segundo promotores, que a arma atribuída ao suspeito teria sido colocada na cena pelos próprios policiais.
CRACOLÂNDIA
Derrite também comemorou os resultados da atuação de forças de segurança na região da chamada cracolândia, no centro da capital, e criticou os esforços de gestões anteriores para tratar o problema de dependentes químicos que se reúnem em grandes grupos para o consumo de droga na cidade.
Segundo o secretário, todos os programas anteriores à gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) foram “extremamente fracassadas”.
“A gestão anterior optou por espalhar [os usuários de drogas], numa operação fracassada, chamada Operação Caronte”, disse. “Para se resolver o problema, quem conhece de crises, um dos princípios é conter a crise.”
O secretário relatou que a estratégia adotada durante a gestão Tarcísio envolveu aumento do efetivo diário da PM na região, operações de inteligência e prisão de traficantes. Ele também destacou a mudança no modo de atuação dos profissionais de saúde e de serviço social que atendem a cracolândia, com o aumento de internações hospitalares sem consentimento dos usuários.
Ele afirmou que a cracolândia foi extinta e recusou a hipótese de que usuários de drogas tenham se dispersado em grupos menores.
“Nós qualificamos todos [os frequentadores da antiga cracolândia]. Essa qualificação [identificação por nomes e outras informações pessoais] hoje me garante afirmar que essas pessoas que eram usuárias de drogas passaram por atendimento e estão sendo tratadas em mais de 40 clínicas de reabilitação.”
TULIO KRUSE / Folhapress



