“Onde está a Poesia?” (Editora Cambucá), da escritora Melina Galete, é uma história escrita para crianças, mas que encontra ressonância em qualquer pessoa que já amou, perdeu e precisou aprender a continuar.
No livro, acompanhamos Poesia, uma gata que passeia pela casa procurando aquilo que já não está mais ali. Ela procura por uma menina. E quem observa essa busca é uma mãe, que tenta entender como se escreve silêncio, saudade e presença quando o coração está em fase de costura.
Inspirado na filha Maria Clara, que faleceu aos 18 anos, o livro é o gesto delicado de uma mãe que transforma dor em palavra, ausência em história e amor em memória. Não como quem tenta explicar o inexplicável, mas como quem abre espaço para sentir junto.
Poesia percorre corredores, cheira almofadas, espreita portas. A cada página, a narrativa toca em um tema que atravessa a infância, mas também a vida inteira: como lidar com o que não podemos ver, mas sentimos profundamente?
Em um dos trechos mais marcantes, lemos: “Uma casa já vazia de menina não pode esvaziar também de Poesia.” E é exatamente isso que o livro faz: mantém viva a presença.
As ilustrações de Jonathas Martins caminham lado a lado com o texto. Em cores reduzidas e traços delicados, ele constrói um espaço visual onde o silêncio respira, mas nunca pesa. “Percebi que a imagem também precisava se recolher um pouco para deixar espaço para o sentimento”, diz o ilustrador.
“Onde está a Poesia?” nos lembra que, mesmo na ausência, há forma de permanência. Que aquilo que se procura no mundo pode estar guardado aqui dentro, bem perto da gente.



