Em um colégio privado no loteamento Parque do Sol, alunos transformam lições de educação financeira em ações reais de impacto social
No loteamento Parque do Sol, no bairro de Gramame, Zona Sul de João Pessoa, a lição de casa ganhou outro significado. Em vez de apenas resolver exercícios, estudantes de uma escola privada mergulharam em uma experiência que uniu finanças, criatividade, empatia e responsabilidade social. O resultado foi o projeto Amor em Ação, que mobilizou a comunidade escolar, arrecadou brinquedos e leite em pó e levou solidariedade a crianças em tratamento de câncer e a alunos de uma escola pública da região.
Mas por trás dos picolés trocados por doações, havia muito mais: uma aula viva sobre empreendedorismo social, planejamento, tomada de decisão e o papel do cidadão na transformação da sociedade, no presente e no futuro.
Um bairro, uma escola, um ponto de partida
A iniciativa nasceu dentro da disciplina Trilhas de Empreendedorismo, ministrada pelo professor Abraão Guedes, que buscava dar aos alunos o protagonismo sobre aquilo que aprendiam na teoria.
“Quis levar aos meus alunos uma experiência do que estávamos debatendo em sala”
“Quis levar aos meus alunos uma experiência do que estávamos debatendo em sala”, explica o professor. “Eles precisavam entender que são parte da sociedade e que também podem contribuir para a solução de problemas reais.”
O professor estruturou o projeto em quatro etapas:
Estudo teórico
Os alunos conheceram o conceito de empreendedorismo social: iniciativas que unem lógica de negócio, inovação e gestão com foco no impacto social, e não no lucro.
Análise da comunidade
Eles observaram o entorno da escola para identificar demandas reais. Em um bairro com famílias de baixa renda, vulnerabilidade infantil e presença de uma unidade hospitalar especializada em oncologia, as necessidades eram evidentes.

Arrecadação e planejamento financeiro
Foi o momento de aplicar finanças na prática: levantar recursos, calcular custos, definir prioridades. Os estudantes decidiram comprar picolés para trocá-los por doações.
Execução e impacto social
Depois da mobilização, as doações foram entregues a quem mais precisava: crianças em tratamento de câncer e estudantes carentes da escola pública vizinha.
“Queria que eles fossem protagonistas do que estamos estudando. Que entendessem que não são espectadores da sociedade, mas agentes capazes de mudar pequenas realidades”, conta.
A escolha do picolé como “moeda de troca” foi estratégica. “É um produto muito procurado no ambiente escolar, e cabia dentro dos recursos do projeto”, contou o professor. Eles não precisaram produzir nada: arrecadaram recursos, compraram os picolés em uma distribuidora e usaram-nos como incentivo para as doações.
Segundo Guedes, o resultado foi transformador. “Em todo tempo eles expressavam felicidade. Sentiram-se agentes ativos na resolução de um problema da sociedade.”

O projeto chegou a dois públicos distintos, mas igualmente sensíveis:
• crianças que lutam contra o câncer no Hospital Napoleão Laureano, referência no Estado da Paraíba;
• estudantes da Escola Joacil de Brito, que funciona no mesmo loteamento.
Para quem recebeu a doação, houve acolhimento. Para quem entregou, um aprendizado que dificilmente se apaga.
Da solidariedade à educação financeira: o que as crianças realmente aprenderam
Abraão contou que, ainda que tenha nascido como ação social, o Amor em Ação é, na prática, uma aula de finanças pessoais adaptada à infância. Os alunos precisaram:

Planejar
Calcular custos, definir objetivos, organizar etapas e prever riscos.
Gerar recursos
Entender que dinheiro não aparece sozinho, é fruto de estratégia, esforço e priorização.
Tomar decisões
Por que picolé? Por que leite? Como comunicar o projeto? Como engajar colegas?
Lidar com responsabilidade
Perceber que suas ações têm impacto direto na vida de outras pessoas.
Tudo isso é exatamente o que especialistas defendem como educação financeira de base: decisões conscientes, planejamento, visão de longo prazo e responsabilidade social.
O que isso tem a ver com finanças pessoais e investimentos?
Reportagens sobre mercado de capitais geralmente falam de ações, títulos, renda fixa, volatilidade. Mas antes de qualquer investimento, existe algo mais básico: a formação de um investidor consciente.

E esse processo começa exatamente com habilidades cultivadas no projeto da escola:
Planejamento: a base de qualquer orçamento familiar e de qualquer carteira de investimentos.
Visão de longo prazo: essencial para quem poupa, investe e não cai em promessas de lucro rápido.
Análise de riscos: os alunos aprenderam que toda escolha tem consequências, uma lição fundamental no mercado financeiro.
“O estudo do empreendedorismo social mostra que a criança também faz parte da sociedade. Muitas vezes, ela não tem clareza disso.”
Consciência social: o investidor de hoje busca impacto positivo. Investimentos sustentáveis (ESG) crescem porque o público entende que rentabilidade e responsabilidade podem, e devem, caminhar juntos.
Empatia e cidadania: quem entende seu papel na sociedade tende a tomar decisões mais responsáveis com o próprio dinheiro e com o destino de seus investimentos.
A semente plantada no Parque do Sol
Para o professor Guedes, o maior aprendizado talvez tenha sido mostrar aos jovens que eles têm poder de transformação. “O estudo do empreendedorismo social mostra que a criança também faz parte da sociedade. Muitas vezes, ela não tem clareza disso.”

A experiência deixa marcas, nos alunos, nas crianças atendidas e na comunidade do entorno. Uma semente que não apenas fortalece o presente, mas prepara cidadãos e futuros investidores para escolhas conscientes. E, como em todo bom investimento, o impacto só tende a crescer.
Na economia, assim como na vida, quem investe com consciência colhe melhores resultados.
O projeto foi executado por Agatha Deisielly Araujo Lima, Ana Júlia Martins de Oliveira , Ana Jullia Martins do Nascimento, Ana Sophia Neri Thimoteo, Bianca fernandes, Camilly Vitória Leite Brasil, Giovanna Fernandes de Oliveira, Gustavo Victor Marques Santos, Kauê Gabriel A. F. Braga, Larissa Rodrigues, Marcelly Guimarães dos Santos, Maria Clara Albuquerque, Maria Sofia Queiroz Araújo e Samuel Lucas.



