Minutos depois de o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) decretar lockdown em Ribeirão Preto, os moradores na cidade foram às ruas e causaram aglomerações em postos de gasolina e supermercados. A medida foi criticada por especialistas, que veem falta de planejamento da administração.
De acordo com o decreto municipal que estabeleceu o lockdown, supermercados podem funcionar apenas no sistema de entrega à domicilio e postos terão horário de atendimento restrito. As mudanças foram anunciadas com exclusividade pelo Grupo Thathi e confirmadas pela prefeitura na tarde desta terça-feira (16). O lockdown será válido por cinco dias.
Segundo o médico Ulisses Strogoff, infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, faltou planejamento para a adoção da medida. “Tem que ter planejamento, não dá pra fazer de uma hora para outra. Essas ações tem que ser anunciadas, ter diálogo prévio. Faltou planejamento”, avalia.
De acordo com ele, a forma de anúncio vai contra o objetivo do lockdown. “Precisaria ser muito bem explicado para que não ocorra isso. O objetivo, quando você faz uma restrição de circulação, é impedir as pessoas de saírem de casa. A Covid é transmitida de uma pessoa para outra, e, numa situação como esta, o caso fica ainda pior”, disse.
Para o secretário de Governo, Antônio Daas Abboud, entretanto, a medida era esperada e iria ocorrer mesmo se houvesse mais tempo até o lockdown. “Se fosse dois dias, também ocorreria. Era esperado, ocorreu em Araraquara, em todas as cidades que adotaram o lockdown”, disse, em entrevista feita por Alessandro Maraca no programa Interação, do Grupo Thathi.
População
A recepcionista Laura Ribeiro, 27, foi uma das que lutou para conseguir abastecer a despensa. Ela conta que já tinha programado de ir ao mercado na hora do almoço, mas que decidiu ampliar as compras. “Nunca se sabe quanto tempo isso vai durar”, conta.
A professora Cristina Ferreira, 40, ao contrário, deixou de ir ao mercado. “Minha programação era essa mas, antes de sair de casa, recebi vídeos mostrando o caos e resolvi ficar em casa”, informou.
Medida questionada
Já Domingos Alves, que analisa a pandemia desde seu início pela Universidade de São Paulo (USP), acredita que o lockdown, como anunciado, ataca apenas um dos problemas da pandemia, que é a alta ocupação de leitos.
“Tanto na fala do prefeito quando do secretário de Saúde, percebemos que há a preocupação com o fato de estarmos com 95% de taxa de ocupação de leito (…) essa é uma ideia voltada para uma política que sempre aconteceu em Ribeirão e no estado de São Paulo. É uma medida para aumentar o número de vagas na UTI, não para combater a transmissão”, disse.
Segundo ele, o tempo de permanência da medida, de cinco dias, não é suficiente para atingir o cerne do problema. “Assim como não existe gestação de seis meses, não existe lockdown de cinco dias (…) lockdown é de no mínimo 15 dias, com possibilidade de ser de 21 dias”, disse.