A analista financeira Aline Melo, de 25 anos, foi pedida em casamento em 2018 e logo marcou a data da união: 15 de novembro de 2020. O avanço da covid-19 no início do ano passado forçou o cancelamento da celebração e ainda resultou na sua demissão. No dia 15, a jovem finalmente selou a união com o professor Rodrigo Sanches, de 27, num festão que reuniu 180 convidados – todos devidamente vacinados -, além do cão salsicha Rodolfo, responsável pelas alianças. A lua de mel em Gramado (RS), com frio de 9ºC em novembro, foi o complemento perfeito.
“O casamento foi tudo e muito mais do que eu esperava. Foi um sonho sonhado por muita gente, por muito tempo”, disse ela, que em uma semana “devastadora” de 2020 foi demitida na terça e adiou a festa dois dias depois. Agora, ela já tem novo emprego e está recuperada. “Foi a primeira vez que reencontramos muitas pessoas da família: emoção em dobro, pelo casamento em si e pelo reencontro.”
Aline não está só nessa retomada. Levantamento feito pelos cartórios de todo o País aponta crescimento de 27,61% das uniões só nos dez primeiros meses do ano, ante o mesmo período de 2020. É uma amostra simbólica da volta à normalidade após o isolamento social. Novembro e dezembro, tradicionalmente o mês com mais celebrações, ainda nem entraram na conta – sinal de que o aumento deve ser ainda maior.
De janeiro a outubro, foram 683.855 matrimônios no País, frente a 535.823 selados no mesmo período do ano passado. A tendência de alta começou em março. Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil, base gerida pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen), que reúne os 7.654 cartórios de registro civil.
Os números ainda não alcançaram os patamares dos anos anteriores à pandemia. Em outubro deste ano, por exemplo, foram registradas 83 mil uniões, ante 78 mil em outubro de 2020. O número foi superior no mesmo mês em 2019 (92 mil) e 2018 (98 mil).
Festa atrasada
Em outros casos, a união no cartório já até ocorreu, mas restou a vontade de celebrar o momento com festa. A fisioterapeuta Stéfany Beluci Floriano, de 27 anos, e o professor Jeferson Floriano Junior, de 28, se casaram no cartório em junho de 2020. Foram só duas testemunhas: a irmã e o primo da noiva. “Durou cerca de três minutos. Foi muito frustrante. Zero emoção, zero tudo”, diz ela. A cerimônia com festa ocorreu só no último dia 13, em Mairiporã, na Grande São Paulo.
Queda
A retomada dos casamentos ocorre após forte queda. Levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na semana passada, revelou que o total de casamentos teve queda entre 2019 e 2020, de 26,1% – a maior redução dessa série histórica, iniciada em 1974. “Conforme a vacinação avança e o número de doentes diminui, as pessoas vão tomando coragem de retomar os sonhos que tinham antes da pandemia”, afirma o presidente da associação dos cartórios, Gustavo Renato Fiscarelli.
Cerimônia híbrida vira opção
Já o servidor público Leonardo Dantas Teixeira, de 44 anos, e a engenheira Anália Meira Spinelli, de 42 anos, que também se casaram na semana passada, preferiram reduzir o número de convidados presenciais a 40 pessoas. Mas outros 80 acompanharam a cerimônia a distância, online. E receberam dos noivos uma caixa com vários mimos, como garrafinha de champanhe e um bem-casado (doce). A estudante de jornalismo Jhennifer Melo, de 24 anos, e o analista de sistemas Willian Melo, de 29 anos, casaram-se no fim de semana retrasado, em Jacarepaguá, Rio. Foram 80 convidados, mas os noivos pediram que as máscaras fossem usadas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.