Fale mal, mas fale de mim

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Foto: Adriano Machado/Reuters

As pesquisas eleitorais escondem detalhes que, muitas vezes, passam longe da percepção do grande público. Saber quem está na frente ou quem está atrás nem sempre corresponde à realidade das urnas. Os órgãos de imprensa, como um todo, exploram os dados mais relevantes. É justo, porém não exato. Se analisarmos, por exemplo, os dados da última pesquisa feita pela Paraná Pesquisas, o centro da atenção recai sobre a vantagem do candidato Lula sobre Bolsonaro. De fato, esse é um fator interessante e midiático, entretanto há um senão que não pode passar ileso e, certamente, pode dar um outro sentido à marcha das eleições. 

Quando foi feita a pergunta sobre quem os analisados poderiam votar para presidente da república, os números alertam os bons entendedores dos atalhos eleitoreiros. Neste item, Lula aparece com 21,7% das intenções, Bolsonaro com 18,2% e Moro com 40,5%. Em outras palavras, se existe alguém que possa evoluir com o passar do tempo é o candidato Sérgio Moro, com ampla vantagem sobre os demais. Quando perguntados sobre o quanto sabem dos candidatos para opinar, Lula tem 0,5%, Bolsonaro 0,9% e Moro com 8,5%. Em síntese, Lula e Bolsonaro pouco tem a oferecer de novo, deixando claro que dificilmente evoluirão os seus patamares em busca de territórios “desconhecidos”. O mesmo não ocorre com Moro, que tem uma inquestionável caminhada no chamado ‘universo das descobertas”, alimento indispensável para o crescimento e fortalecimento da campanha.  

Mas a questão que surge é: como fazer Moro conhecido e com alta capacidade de capilaridade? Simples: falando dele. Quanto mais falarem, mais ele será destacado e, quanto mais baterem, mais ele será “protegido”. Lembrem-se de que essa foi a técnica usada por Bolsonaro nas últimas eleições. Pouco conhecido, mas com um discurso conservador, liberal, armamentista, patrulheiro da anticorrupção, ele ganhava espaço geometricamente, quando mais o atacavam. Em síntese, os outros candidatos “patrocinavam” a campanha de Bolsonaro falando dele e agredindo ostensivamente os seus pontos de vista. A cena agora se repete, com requintes de detalhes. Lula e Bolsonaro são conhecidos, amados ou desprezados. No entanto, Moro é um arauto que põe em risco a solidez dos dois. Lula e Bolsonaro possuem telhados de vidro e podem pagar caro por isso. Moro aparece como justiceiro, aquele que colocou Lula na cadeia por corrupção e Bolsonaro, aquele que tirou Lula da cadeia, com sua política intervencionista.  

O resultado já está estampado nas pesquisas. Trata-se de uma questão de tempo. Tornar Moro conhecido é falar dele continuamente. A psicologia das massas indica que há uma profunda tendência a proteger os ofendidos, principalmente no mundo das polarizações. Errar é humano, persistir nele…