No mundo globalizado, é compreensível que haja distorções de fatos, já que a pressa em ser o primeiro a informar, como numa corrida pífia, significa likes e projeção. Todavia, esse tipo de ocorrência no mundo jornalístico é motivo de análise e repreensão. Jornalismo é feito para informar, não para torcer ou muito menos, distorcer os acontecimentos. Antes de publicar um determinado fato, é sempre aconselhável checar, desconfiar e se cercar da verdade, como meta precípua. Há uma forte diferença entre opinar e informar. A primeira tem caráter de subjetividade, passionalismo e interpretação individual. A segunda, não. A objetividade é o combustível da boa informação. Quanto mais exato, mais profundo, mais intenso, mais correto será.
Tudo isso dito, tem um porquê direcionado: a cobertura dada pela imprensa à guerra entre Rússia e Ucrânia. Até que ponto há uma análise profunda? O que se tem visto é quase sempre um processo rasteiro, sonegado e, pior, manipulado por interesses aquém da verdade. Há uma torcida escandalosa pela Ucrânia. Isso não quer dizer que a invasão russa tenha apoio ou mesmo que deva ser elogiada. Longe disso. Indiscutivelmente houve uma agressão à soberania de um país, um jogo expansionista e inaceitável de Putin. Todavia transformar a Ucrânia em modelo de democracia e pureza é tanto quanto absurdo.
A encenação do suposto ataque à maternidade em Mariupol, com requintes de megaprodução cinematográfica, com a participação de uma modelo no papel de mãe vitimizada é, no mínimo desproposital e fétida. O mais grave é que a encenação foi exposta no mundo todo, a partir das mesmas fotos, dos mesmos posts. Ninguém sequer checou a sua veracidade, ninguém acolheu a denúncia da falsidade acusada pelo governo russo. O motivo é simples: os russos foram abomináveis, dignos de desprezo, a quem não se deve dar ouvidos. Desde quando isso é jornalismo? Desde quando não se abre o direito do contraditório? Desde quando não se deve ouvir o outro lado?
Os russos perderam a razão porque seu presidente é um tresloucado? Por que a imprensa não avalia a meia sanção imposta pela Alemanha, fazendo vistas grossas ao suposto embargo, justamente por necessitar tanto do gás para o seu país? Que jogo de interesses políticos, econômicos e geográficos se escondem entre os países envolvidos? Qual o papel dos EUA nesse episódio? A guerra expôs o calcanhar de Aquiles da imprensa como um todo. Haverá ganhadores? O tempo será o juiz.