Denúncias de rachadinha, prática em que políticos se apropriam de valores pagos a servidores comissionados indicados por eles para ocuparem cargos na administração pública, voltou a assombrar a Câmara de Ribeirão Preto nesta sexta (6). A bola da vez é o vereador Bertinho Scandiuzzi (PSDB), acusado por um ex-servidor da prefeitura de receber 30% de sua remuneração. O parlamentar nega afirmou que irá buscar reparação do denunciante.
A denúncia, referente ao ano de 2009, foi postada no Facebook, em uma postagem feita pela página de Paulo Sarte, um perfil sem autoria identificada, mas que realiza postagens com comentários sobre a política da cidade. Weser Scavazzini, o denunciante, comentou a publicação e relatou, nela, que era obrigado a entregar 30% do salário ao parlamentar.
Procurado pela reportagem da Thathi, o denunciante informou que trabalhou na campanha à reeleição de Bertinho em 2008. Ocupava, por indicação do governo Welson Gasparini (PSDB), um cargo em comissão como chefe de setor no Sassom. Hoje, o salário para a função que ele desempenhava na época se aproxima dos R$ 6 mil.
Com a derrota de Gasparini para Dárcy Vera, ele informou ter sido procurado por Bertinho, que havia condicionado a permanência dele no cargo que ocupava ao pagamento de 30% do salário. “Paguei em janeiro e fevereiro. Em março, eles me ligaram que não iam conseguir me segurar. Levava o dinheiro no escritório do Rangel [Scandiuzzi, filho de Bertinho e seu herdeiro político]. Eles não recebiam cheque, queriam em dinheiro”, disse o denunciante, que informou, ainda, que não permaneceu no trabalho por muito tempo.
Confirmação
A informação sobre a exoneração de Weser foi confirmada pelo Grupo Thathi, que pesquisou e descobriu que ele foi exonerado em 31 de março de 2009. “Disseram que a Dárcy não queria que eu ficasse e que eu iria para a Câmara. Mas nunca fui contratado. Meses depois, consegui uma indicação, via Atmosphera, para trabalhar na Secretaria de Cultura. Mas, na gestão Dárcy, nunca precisei devolver dinheiro”, disse.
Segundo o denunciante, a prática era corriqueira e envolvia assessores parlamentares de Bertinho e também pessoas indicadas por ele em cargos de comissão na prefeitura. “Ele fazia isso naquela época, e acho que faz até hoje. Todo mundo ia entregar o dinheiro lá”, afirma.
A reportagem apurou, também, que ele foi efetivamente contratado pela Atmosphera, prestando serviços até o último ano do governo Dárcy Vera.
Outro lado
A reportagem tentou falar com Scandiuzzi durante toda a manhã e até o meio da tarde desta sexta-feira (6), mas não teve sucesso. Em participação feita no programa Thathi Repórter, pela manhã, o vereador negou o fato e afirmou que iria tomar as medidas judiciais cabíveis contra o Scavazzini.
“Nunca trabalhei desse jeito, sempre trabalhei dentro de uma honestidade. Vou demonstrar tudo, através da Câmara (…) ele [o denunciante] vai ter que responder pela falsa denúncia, pelo crime que está fazendo sobre o meu nome”, disse o vereador.
O parlamentar informou ainda que quer uma acareação com o denunciante. “Ele vai ter que provar isso. É uma mentira deslavada em relação ao meu nome”, informou. O denunciante, por sua vez, aceitou o convite do parlamentar. “Faço questão de dizer tudo pessoalmente para o vereador”, disse.
Mais rachadinha
É o segundo caso de rachadinha a atingir vereadores da Câmara de Ribeirão em menos de um ano. Antes, também em denúncia do Grupo Thathi, o vereador Sérgio Zerbinato (PSB) foi acusado, por uma ex-assessora, de repassar parte do salário dela à irmã do parlamentar.
Zerbinato e a irmã, Dalila, são réus em um processo que corre na Justiça de Ribeirão Preto.