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A primeira vez que fui assediada…

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A primeira vez que fui assediada…

Por Lívia Komar

A primeira vez que fui assediada por um homem eu tinha quatro anos. QUATRO ANOS. Ele parou em frente à minha sacada e de dentro do carro me mostrou o pns.

Com 10 anos, eu e minha sobrinha de 5 fomos perseguidas por um cara de carro com a calça arriada. Pedi abrigo para um vizinho que ao invés de nos levar em casa, mandou seguirmos tranquilas pois estaríamos imaginando coisas.

Na adolescência, mais sequências de abusos. Homens se masturbavam em todo lugar: no ponto de ônibus, na praça, atrás da árvore, na janela do meu quarto enquanto tinha a ousadia de assoviar me chamando. São alguns casos, mas foram vários, à luz do dia. E eu andava na rua tensa esperando o próximo episódio.

Na balada, as mulheres vão juntas ao banheiro, se protegendo. Já fui beijada à força e empurrada quando reagi. Tocada, invadida.

Ser mulher é viver com medo. É também querer saber onde errou por ter sido assediada no trabalho. É ser propriedade. É pedir indignação de uma sociedade anestesiada que normaliza certos abusos. É ser julgada e culpabilizada pela roupa que usa, pelo drink que bebe, pela forma que se expressa.

Ser mulher é nunca estar certa. É ser louca e vadia. É ter pedido para ser estuprada pelo tamanho do decote e não poder abortar .Se decidir doar o filho do estupro, ser apontada também. É não poder andar tranquila sozinha. Nem parir em paz podemos.

Achei importante tornar esses fatos públicos para mostrar o que passamos desde meninas.

Quase a totalidade das mulheres que conheço já vivenciou histórias parecidas e isso é herança da cultura patriarcal de dominação das mulheres.

Nem todos os homens, mas sempre homens, no meu caso, desconhecidos, nojentos. E veja bem, ser um cara foda vai muito além de não cometer abusos: é lutar contra, é questionar os brothers sobre atos longe de ser aceitáveis, é não compactuar com atitudes machistas nem por brincadeira.

Como mãe de menino, me vejo na missão de fazer com que essa batalha seja amplificada e que ele ajude a quebrar esse ciclo doentio do machismo que reside em todos os âmbitos sociais.

Que essa nova geração de meninas não passe pelo que passei. Que a nova geração de meninos ajude a tornar o mundo mais seguro para nós.