Estamos vivendo tempos de crise. Não estamos falando especificamente de crise financeira ou de crise política. Estamos falando, principalmente, de crise de verdades e de valores. O que sempre foi considerado certo, de repente, nos deixa em dúvida. As atitudes que sempre foram recomendadas para certas situações com nossos filhos, hoje nos deixam inseguros, pois não estamos convictos de seus efeitos.
Somos uma geração de pais marcada pela dúvida e pela culpa. Dúvida sobre o que fazer e culpa por colocar limites. Podemos resumir nosso momento como uma transição entre a disciplina do medo e o medo da disciplina. Os períodos de repressão e de liberalidade exagerada nos permitem saber das consequências desses dois extremos.
Proteção x cuidado
Proteger envolve decidir pelo outro. “Você vai ficar em casa, pois na rua está muito tumultuado e você pode se perder!”. Eis uma situação típica de proteção. A decisão é unilateral e não pressupõe diálogo. A proteção isenta o outro de riscos ou de ter que assumir suas escolhas. Cuidar envolve oferecer escolhas, explicar suas consequências e disponibilizar-se para ajudar, caso seja necessário. Envolve análise de consequências e uma escolha por parte do outro.
Deixar que nossos filhos façam escolhas que envolvam riscos para levá-los a assumir esse risco e suas consequências é puro cuidado. Crescer pode ser resumido a assumir escolhas e suas consequências. Cuidar educa. Proteger, embora necessário, não.
5 dicas para uma criação saudável e respeitosa
Para uma criação saudável e respeitosa, é essencial adotar práticas que promovam não apenas o bem-estar físico, mas também a compreensão, a empatia e a autenticidade nos relacionamentos familiares. Confira algumas orientações para essa jornada!
1. Estimular o desenvolvimento da autoestima
Autoestima saudável é sentir-se competente para lidar com os desafios básicos da vida e sentir-se merecedor de felicidade. É essencial desenvolver a autoconfiança em nossos filhos para que eles possam enfrentar a realidade, mesmo diante de fatos desagradáveis. Nesse sentido, precisamos agir com respeito, afetuosidade, coerência, objetividade e determinação.
2. Ensiná-los a lidar com suas emoções
Para que isso seja possível, devemos substituir a censura pelo apoio e criar um clima natural para uma conversa aberta que favoreça o autoconhecimento. É importante que lidemos bem com nossos próprios sentimentos para que possamos cumprir essa tarefa.
3. Desenvolver habilidades essenciais à sobrevivência num futuro próximo
Dentre essas habilidades, destacam-se a autonomia, a seletividade, a flexibilidade, a interação, a serenidade e a resiliência, que é a capacidade de aprender e fortalecer-se com as adversidades. Para desenvolver a resiliência, é necessário ter coragem para encarar as dificuldades e humildade para admitir as fraquezas.
4. Ajudá-los a desenvolver a educação da vontade
Está mais do que provado que o que nos move não é a inteligência, mas sim a vontade. Uma pessoa muito inteligente, mas fraca na administração de sua vontade, não sai do lugar. Por outro lado, alguém de inteligência média, mas com alto potencial de domínio de sua própria vontade, atinge seus objetivos com relativa facilidade.
5. Administrar o tempo com os filhos
Aqui, estamos falando de qualidade, e não de quantidade de tempo. Independentemente da quantidade, o tempo que podemos passar com nossos filhos precisa ser marcado pelo contato emocional, da forma mais intensa possível. É por meio desse contato que nossos filhos constroem segurança para se tornar autônomos.
Pelo que nos parece, os tempos de crise estão, aos poucos, se tornando a marca registrada de nosso mundo. Educar filhos num mundo cuja única certeza que temos é de que tudo pode mudar exige de nós buscarmos referenciais sólidos nos quais eles possam se agarrar para, paradoxalmente, darem conta de tantas mudanças.
Por Júlio Furtado
É pedagogo, mestre em Educação, doutor em Ciências da Educação e Orientador Educacional do Colégio Professor Anselmo (RJ).