Cem a cada cem pessoas que trilham o caminho do misticismo, esoterismo e, de alguma forma, a magia já ouviram falar em autoconhecimento. Entretanto, poucas delas já se perguntaram para que serve o autoconhecimento. Parece-me que é algo que é imposto à sociedade, de tão displicente a forma como lidamos com isso.
Alguns falam que isso é difícil, que é impossível. Outros fazem disso uma espécie de busca de vida, de objetivo máximo. Outras pessoas ainda se entendem, de repente, como iluminados por já terem um leve vislumbre do autoconhecimento. No fim das contas, o que seria isso?
A quem estou querendo enganar?
A busca é válida, mas o caminho é tortuoso, e a chegada, impossível. A quem estou querendo enganar, afinal de contas? O certo é que você nunca vai, realmente, se autoconhecer. Você terá diversos vislumbres de si, mas nunca uma vista completa. Isso porque você muda toda vez que adquire novas informações, e faz isso o tempo todo.
Você não será a mesma pessoa que era quando terminar este texto. Na verdade, nem quando terminar esta linha. Uma boa parte de você se transformou, átomos de oxigênio foram processados, outros de carbono foram eliminados, novas “pontes neurais” foram construídas, outras foram eliminadas e outras, ainda, enfraquecidas. Quem você era ao ler esta palavra, não é mais quem você será ao terminar esta.
A constante mudança é decorrente da forma como nossa mente encara o universo e constrói um universo dentro de si. Este universo interno, como o externo, está em constante movimentação, pois estrelas colapsam, planetas se criam, sistemas se afastam e se aproximam.
O importante é não desistir
O que posso garantir a você é que o importante é não desistir de tentar se compreender. Embora mutantes, algumas coisas em nós resultam de processos tão intensos que ficam registrados de forma praticamente indelével, como uma coisa chamada “crenças nucleares”.
Essas crenças são construídas em nós na primeira infância e ditam nosso comportamento dali para diante de uma forma tão intensa, que muitas vezes não conseguimos saber de onde tal comportamento vem. Autoconhecimento aqui é conseguir identificar essas crenças e saber que você agir assim ou assado, tem um ponto muito mais profundo do que o simples “livre arbítrio”. Você praticamente foi programado para fazer isso por algumas pessoas em momentos de que você, conscientemente, nem se lembra.
Aqui está a importância
Quando você busca se conhecer, precisa ativar certos gatilhos de imperfeição em sua alma e aqui está a importância: autoconhecer quer dizer se ver como ser imperfeito. Afinal, se você fosse perfeito, se não cometesse erros, não precisaria fazer este exercício.
Nesta busca, você é levado a brigar consigo, a enfrentar-se, e este processo sempre gera aprendizado. Mesmo que você não se conheça como pretende, ao menos você está mudando de uma forma consciente, para um lugar ao qual deseja ir, não para o qual é empurrado pelas mãos impiedosas da vida. Se perguntar te leva a olhar-se de outra forma, a ser mais complacente consigo, a ser mais misericordioso, a ser mais compreensivo. Te leva a uma conexão com este ser que você desconhece, mas que vive contigo desde que você nasceu.
Te faz observar que o “anjo da guarda” enviado dos céus, segundo o mito, está muito mais próximo do que você já imaginou e que o daemon, enviado do submundo, não está abaixo de suas solas. Te mostra que a história de o corpo ser composto por milhões de seres autônomos, as células, tem muito mais significado do que pode parecer, quando eles começam a fazer a dança da vida e te levam a lugares nunca navegados pela sua mente, que tende à preguiça, mas que é controlável por você.
No final das contas, na jornada do autoconhecimento, chegar ao destino importa muito menos que curtir a viagem até lá.
Os perigos de ter convicções
Por Nino Denani
Pós-graduado em neuropsicologia, Mago Hermetista, Grão Mestre da Ordem do Grande Oriente Místico e host do canal do Nino Denani no YouTube.