Setembro Amarelo: 7 temas relacionados à educação que exigem atenção

Em 10 de setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Porém, por conta da notoriedade da data e de sua visibilidade, a celebração acabou se estendendo para todo o mês. Assim, a importância dos cuidados com a saúde mental para a prevenção do suicídio ganha mais espaço.

Em se tratando de educação, existem pontos que merecem atenção e podem afetar tanto a saúde mental dos estudantes quanto a dos educadores. Para melhor compreender a questão e, mais do que isso, prevenir e manter a saúde mental em equilíbrio, especialistas trazem dicas e reflexões sobre o assunto. Confira!

1. Equilíbrio da saúde mental no vestibular

Em tempos de vestibular, é essencial manter o equilíbrio da saúde mental. Para tanto, Fabrício Pires, diretor de ensino do Colégio Master, de Fortaleza (CE), afirma ser muito importante manter uma rotina de estudos e “recarregar as baterias”, principalmente na reta final. “Não desanime, falta pouco! Continue com a mesma rotina adotada ao longo do ano, assistindo às aulas, revendo questões e mantendo o ritmo no período extraclasse”, destaca.

“Além disso, não deixe de lado os seus momentos de relaxamento e de descontração. O descanso também é importante para a melhoria de desempenho e de rendimento, uma vez que uma mente cansada não absorve tão bem os conteúdos. Inclua intervalos de trinta minutos a cada duas horas e meia de estudos”, recomenda o diretor.

Segundo o profissional, outro fator importante é buscar suporte em familiares e amigos. Nesse momento, é essencial estar perto das pessoas que mais ama. O cansaço é muito comum com a aproximação do fim do ano, ainda mais com tamanha preparação. Por isso, esse apoio emocional se faz importante para manter a energia, a motivação e a saúde mental do estudante. Tudo isso auxilia na fixação dos conteúdos e melhora o desempenho na prova.

2. Educadores em foco

Pesquisa realizada pela Nova Escola, em parceria com o Instituto Ame Sua Mente, aponta que um dos grupos que vem sendo mais afetados pela falta de suporte para saúde mental é o dos educadores. Dados mostram que mais de 20% dos educadores brasileiros consideram sua saúde mental ruim ou muito ruim.

“Os profissionais da educação precisam receber cuidados voltados para a saúde mental a fim de que eles estejam preparados para lidar com os desafios diários da profissão. Nessa cultura de apoio, tão necessária, o suporte dos gestores a partir de um canal de comunicação aberto é fundamental”, explica Juliana Storniolo, diretora da FourC Learning, projeto voltado para qualificação de gestores e educadores.

Para ela, um dos papéis da liderança é acompanhar e direcionar esses profissionais para identificar questões de ordem psicológica, sempre que necessário, oferecendo, inclusive, suporte emocional para criar um ambiente de trabalho que promova bem-estar, autoconhecimento e prática de atividades de relaxamento.

3. Trabalhando conflitos e diferenças em sala de aula

Promover um diálogo saudável entre o educador mediador e as partes envolvidas é fundamental para resolver conflitos, de modo construtivo, no contexto escolar. Esse diálogo possibilita a expressão de sentimentos, de opiniões e de perspectivas, aprofundando a compreensão das raízes do conflito.

”Ao agir como facilitador, o educador auxilia na melhoria das habilidades de comunicação e empatia dos envolvidos. Esse ambiente de diálogo seguro estimula a expressão e compreensão das emoções, resultando em soluções colaborativas e relações interpessoais fortalecidas”, explica o CEO da Vereda Educação, Arthur Buzzato.

Reconhecer e valorizar as singularidades de cada aluno é fundamental para criar um ambiente escolar inclusivo e enriquecedor. Para Arthur, cada estudante traz consigo experiências, perspectivas e habilidades únicas, e ao respeitar essas diferenças, a escola cultiva aceitação e respeito mútuo.

“Essa valorização promove não apenas a compreensão das diversas culturas, interesses e habilidades dos colegas, mas também o desenvolvimento da empatia. Competências socioemocionais, como a cooperação, o autoconhecimento e a comunicação eficaz desempenham um papel crucial na resolução de conflitos e na promoção de um ambiente harmonioso”, complementa.

Ao dominar essas habilidades, os alunos se tornam capazes de compreender e expressar emoções, comunicar necessidades construtivamente e colaborar de forma eficaz para alcançar objetivos comuns, criando uma resolução harmoniosa e profunda.

Crianças sentadas em volta da mesa na sala de aula enquanto professora fala com alunos.
Cuidado com a saúde mental dos estudantes deve começar desde cedo (Imagem: BearFotos | ShutterStock)

4. Conscientização e prevenção de bullying nas escolas

Investir em conscientização e prevenção do bullying nas escolas é fundamental para criar um ambiente acolhedor, colaborativo e responsivo. Por meio do desenvolvimento de habilidades sociais, resolução de conflitos e empatia, os alunos são preparados não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para uma vida saudável.

A orientadora Silvia Regina Dias, do Colégio Anglo Alante São José dos Campos, do Grupo Salta, destaca a importância de uma abordagem mediadora, na qual os casos de bullying são investigados minuciosamente e ações apropriadas são tomadas para cada situação, incluindo projetos que deixam claro a intolerância a comportamentos prejudiciais.

A professora do Ensino Fundamental Anos Finais, Camila Pascui, do Laboratório Inteligência de Vida (LIV) do Colégio Anglo Alante São José dos Campos, enfatiza que a escola frequentemente é o único porto seguro para muitos alunos, tornando crucial a promoção de um ambiente saudável. Isso não somente aprimora o processo de ensino-aprendizagem, mas também constrói confiança, permitindo que os alunos busquem ajuda em momentos de necessidade.

5. Guia de saúde mental para estudantes

Para apoiar as equipes escolares no acolhimento adequado aos alunos que enfrentam dificuldades emocionais, a Camino School desenvolveu um guia gratuito de saúde mental. O material, disponível online, traz informações, diretrizes e protocolos para casos de agressão física, violência, luto, depressão e ansiedade, orientando as escolas nos procedimentos adequados.

“Cada caso é único e pode exigir abordagens específicas, mas é fundamental implementar um fluxo geral de endereçamento de crises escolares que seja capaz de garantir uma resposta rápida, coordenada e eficaz”, explica Renata Trefiglio, autora e coordenadora geral do material desenvolvido pela Camino School.

6. Cultura escolar de alta confiança

Previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), trabalhar as habilidades socioemocionais das crianças desde a primeira infância é garantir seus direitos de aprendizagem e de conhecimento. Por isso, iniciativas que contemplam essas competências contribuem para a formação e para o desenvolvimento das novas gerações, o que implica em compreender a complexidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas do ser.

Heleomar Gonçalves, assessor pedagógico do programa Líder em Mim, proposta pedagógica que visa a formação de líderes desde cedo, diz que, para alcançar um viés pedagógico de acolhimento e de reconhecimento pleno dos alunos, a educação deve garantir que eles desenvolvam 3 competências:

1. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

2. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

3. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

7. Disciplina positiva ajuda crianças nas habilidades socioemocionais

Dentro do contexto do Setembro Amarelo, também surgem questões como a necessidade de combater a violência dentro da escola. Violência essa que pode se manifestar pelo bullying ou pelo cyberbullying, por exemplo. Instituições de ensino podem e devem pensar em ações e práticas perenes para melhorar a saúde mental das crianças e dos adolescentes.

A disciplina positiva tem relação direta com o desenvolvimento socioemocional e, consequentemente, com o controle das emoções. Baseada na firmeza e na gentileza, sem punição, castigo ou recompensa, a abordagem estimula o desenvolvimento do autoconhecimento e do autocontrole, além de habilidades sociais importantes, como a empatia e a autoconfiança.

“A disciplina positiva ensina importantes habilidades sociais e de vida de maneira profundamente respeitosa e encorajadora, partindo do conceito de conexão antes da correção, incentivando o pertencimento e o encorajamento”, explica Claudia Peruccini, gerente pedagógica da Red Balloon.

Por Luana Anjos

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