A ignorância tem importância ou se resume no simples antagonismo ao conhecimento? Os filósofos foram os primeiros a debater sobre a ignorância. A filosofia, enquanto ciência, coloca-se entre a sabedoria e a ignorância.
A história registra governos que manipularam o povo, instituindo um sistema estatal de ignorância, por ser conveniente. No mercado de trabalho o aprimoramento do conhecimento torna pessoas especialistas em várias áreas, enquanto os ignorantes ficam para trás …
O livro “Ignorância, uma história global” , de Peter Burke, professor de História Cultural da Universidade de Cambridge, ensina muito sobre esse tema. Conhecimento e ignorância possuem relação estreita com poder. No mundo de hoje, uma boa informação no mercado financeiro ou uma ideia inovadora no empreendedorismo, podem render milhões.
Yuval Hahari comenta que nunca no mundo se teve tanta informação (que não necessariamente significa conhecimento). Atualmente uma criança possui mais informação do que qualquer adulto no passado. Com isso, o homem passa a ter consciência do quanto não sabe, como profetizou Sócrates.
A ignorância está presente em religiões, quando uma questiona a outra, desconhecendo ambas a fundo a doutrina alheia. A ignorância pode ter cunho imperialista: muitas nações dominaram outras, ignorando e desprezando o povo primitivo dominado, quando não, dando fim às suas tradições ou exterminando-o.
Na área da educação, no Brasil, ensinou Paulo Freire: “ignorância é diferente de analfabetismo”, afastando a então máxima de que os professores sabiam tudo e os alunos eram ignorantes. O tema “ignorância” é, pois, instigante. Na história ocidental, a Revolução Francesa foi o marco da evolução do conhecimento, contrapondo-se ao período de “escuridão” da idade média.
A ciência merece ser ovacionada quando se discute ignorância, sendo ela que olha para o futuro e gera conhecimento. Quando se nega a ciência, diante de uma evidência científica, aplaude-se a ignorância.
Stuart Firestein, cujo livro de sua autoria é citado por Burke, explora o paradoxo de que “a ciência progride por meio do crescimento da ignorância”. Burke classifica a ignorância humana como individual, coletiva, corporativa e organizacional, dando como exemplo desta a tragédia de Chernobyl, em 1986, causada por falha na comunicação humana, uma “ignorância sistêmica”.
Em linhas gerais, a ignorância pode consistir não só sobre o que não se sabe, mas também naquilo que se acha que sabe e na verdade não se compreende. Mark Twain, talvez, inspirado em Sócrates, disse, sabiamente: “somos todos ignorantes, só que sobre coisas diferentes”.