Dilúvio sem arca

Hélio Consolaro
Hélio Consolaro
Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor, 75 anos. Oito livros publicados. Membro da Academia Araçatubense de Letras, foi vereador e secretário municipal de Cultura por oito anos.
Escritoras Rita Lavoyer e Fernanda Gaiotto | Foto: Arquivo Hélio Consolaro

Como é bom morar em Araçatuba, não tem lama dentro de casa e nem os mananciais transbordaram. Há em nós uma sensação de conforto com a desgraça do outro.

Castigaram a natureza num lugar do planeta, e o castigo coube aos gaúchos. Ou eles também são culpados? Não há inocentes nesta tragédia televisa.

Que planeta deixaremos para nossos descendentes? Não sei se nossos ancestrais fizeram tal pergunta.

Somos um bando de cegos, perdidos nesse planeta, um acusando o outro pela sujeira. Não soubemos nem conservar a Terra limpa.

Na verdade, estamos perdidos e dessa vez não há Arca de Noé. A única coisa que posso dizer aos gaúchos que estou triste com tanta desgraça.

QUAL É O PREFEITO DE PLANTÃO EM BIRIGUI?

Que vexame para o povo biriguiense ter políticos desse quilate. Não tem gente melhor para o povo eleger?

Não estou me referindo a este ou aquele grupo, falo de todos. Cada um pensando só em si, se esquecendo da cidade.

A copeira do gabinete não sabe que tipo de café faz, pois cada dia tem um prefeito diferente.

Araçatuba não é muito diferente, mas não se chegou a essa antropofagia.

Crie vergonha, Birigui!

O MOSQUITO DENGOSO

A escritora Rita Lavoyer estava chegando à biblioteca municipal Rubens do Amaral no seu carro para autografar o livro infantil “Dengoso-o mosquitinho anti-herói!”, quando viu centenas de carros estacionados ao redor, sem vagas. Ela gritou:

– Não tenho exemplares suficientes, vou passar vergonha!

O marido emendou:

– Não sabia que você era tão famosa!

Ao adentrar o saguão, Rita percebeu que não era tanta gente assim!

– Ué! Cadê o povo?

Uma amiga lhe disse que havia jogos regionais dos idosos no Ginásio de Esporte, daí tantos carros estacionados na redondeza!

Mas uma voz mais esclarecedora foi fundo:

– Quem disse que velho junta tanta gente?

– É o jogo da AEA no estádio municipal!

Havia muita gente na sessão de lançamento do livro, mas nem tanto, que enchesse um estádio.

A AEA está na série C, que hiperbolicamente chamam de “Bezinha”, mas os pais, recordando a infância, levam seus filhos para ver um jogo no estádio, coisa nunca vista por eles.

“Dengoso, mosquinho anti-herói” chama a atenção para a conscientização no combate à dengue com muita poesia, ludicidade e informação. Livro premiado pela Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba.

A vida precisa do esporte, mas a leitura ajuda também.

NÃO ERA ELE

Afinal, ele insistia em falar comigo, falar de uma amizade de 50 anos atrás. Mas para quê? Para brigar? Não era ele que viria me visitar, era outro, totalmente diferente.

Dois velhos se encontrariam, nem do passado poderiam falar, porque ele passou a ser negacionista, pois sofria da Síndrome de Estocolmo, se apaixonou pelo algoz.

Dois velhos de passados iguais, mas que não podiam se referir a ele, não podiam se encontrar. Melhor não. A campainha da casa tocou, abri uma fresta na janela, era ele. Não veio uniformizado, vestido com a camiseta da seleção brasileira. Abri a porta, entrou. Fui mostrar-lhe o jardim. Conversamos mais de hora sobre um presente ameno. Sementes, mudas e flores.

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