A história de Fabrício Samuel, o valparaisense que se realizou através da arte

Fabrício Samuel, morador de Valparaíso (SP), 45, começou no teatro em 1996, quando estava no ensino médio, participando do Ministério de Artes em uma Igreja Católica. Ele fazia apresentações teatrais nos encontros de jovens.

Em Valparaíso, segundo Aline, secretária de Cultura do município, existem duas companhias de teatro. A Oficina Cultura da prefeitura e a Companhia de teatro de Coroas, de Fabrício Samuel.

Fabrício relata que foi criado em um sítio e que nessa época ele era uma pessoa tímida, mas brincalhona e, quando se apresentou pela primeira vez, recebeu uma resposta positiva do público, então percebeu que encontrou o seu lugar, onde ele tinha valor. 

Entre 1999 e 2001, Fabrício morou em Portugal eEspanha e, somente depois do seu retorno ao Brasil, em Valparaíso, enxergou o teatro como profissão. Em 2002, um professor o associou Fabrício à figura de Jesus Cristo por conta de sua fisionomia e o convidou para interpretar o personagem. “Foi a minha primeira grande apresentação”, conta.

O próximo passo foi procurar sua profissionalização, com cursos, oficinas em várias cidades. Em Araçatuba, entrou em um curso de iniciação teatral. Após essas experiências ele percebeu que o teatropoderia ser uma profissão.

Fabrício decidiu sair de Valparaíso por três anosrumo ao velho continente, mais precisamente Portugal e Espanha. Morou em Lisboa na maior parte do tempo e ficou aproximadamente três meses na Espanha.

No segundo país, Fabrício esteve em Sevilha e na região de La Corunha, onde ficou pouco tempo e logo retornou para Portugal, em 2001.

O ator sempre desejou sair do Brasil e conta que entre os anos 1980 e 2000, muitas pessoas estavam indo para os Estados Unidos e ele também se interessou, mas não conseguiu o visto. Entretanto, um casal de amigos estava indo para Portugal e ele seguiu o mesmo caminho.

Como não precisava de visto para entrar em terras portuguesas, esta foi a porta de entrada para o artista iniciar sua experiência em solo europeu. “Fui totalmente no escuro”, relembra.

A arte teatral

O teatro é a vida para Fabrício, onde diversão etrabalho se misturam. “Até chegar ao resultado final, passo pelo processo de ensaio, construção da trilha,direção de cenas, inauguração de cenários e figurinos, até chegar ao produto final. O teatro significa tudo pra mim”, confessa.

Em Valparaíso, Fabricio atua como diretor da Companhia Teatro de Coroas, cujos temas são exclusivamente abordados com a intenção de trabalhar a prevenção e combate das violências sociais.

Temas como o combate ao suicídio, ao abuso infantil, violência contra a mulher e contra a pessoa idosa já foram encenados pela companhia, bem como o de incentivo à leitura para o público infantil.O artista acredita que as crianças gostam de ler quando tem algum adulto lendo para elas. Hábito esse que ele e sua esposa, Bianca, fazem com o Murilo, filho de 7 anos do casal.  “A casa precisa ser esse ambiente da leitura também”, acredita.

Produção

O processo de montagem de um espetáculo varia de grupo para grupo. Como diretor do Teatro de Coroas, Fabrício começa pela escolha do tema, que pode ser motivado por um desejo pessoal ou necessidade de abordar determinada temática. Após uma pesquisa de campo, ele procura textos sobre oassunto, em alguns casos edita e paga para usar, em outros, não modifica. Alguns cobram, outros não, mas ele sempre pede autorização para usá-los.

“A edição de um texto para teatro começa com muita pesquisa e entrevistas. Depois é preciso imaginar opúblico, adequar o texto ao elenco, pensar no cenário, nos acessórios, nos textos dos atores, nos ensaios e nas definições finais para chegar ao produto”, explica. “Os ensaios começam quando o artista está no processo de decorar as falas e, no momento em que eles estão seguros, eu entro como diretor para trabalhar a voz, o corpo, o figurino e os cenários”.

Depois de todo esse processo, o diretor marca ensaios para um público selecionado para observar a reação dos espectadores e aferir o que está funcionando e o que não está. “Dadas as circunstâncias, um segundo ensaio é marcado, com toda edição refeita e, após bater o martelo, o teatro está pronto para as apresentações”, conta Fabrício.

Coroinhas viraram atores

A companhia Teatro de Coroas foi criada por Fabrício Samuel em dezembro de 2012, em Valparaíso, a partir do desejo de ter o seu próprio grupo. O artista nunca abandonou suas atividades na igreja e, no mesmo ano, um padre o convidoupara fazer um trabalho sobre a água com 30 coroinhas. Destes, 12 foram convidados pelo valparaisense para fundar o grupo Teatro de Coroas. O nome faz menção ao primeiro trabalho, onde o diretor conheceu o seu elenco.

Encerrada a montagem da igreja, uma reunião foi feita com as crianças e seus responsáveis, que decidiram pela criação do grupo. As crianças, na época, em sua maioria tinham 8 anos de idade e continuaram com o diretor por aproximadamente 10 anos de suas vidas.

O olhar da companhia na época era para a formação dos jovens. Devido à idade e com passar do tempo,foram se desenvolvendo profissionalmente e seguindo os próprios caminhos. 

Foi em 2013 que Fabricio começou a ver, enfim, a arte como profissão, pois naquele período atuava como Secretário de Cultura em Valparaíso, onde abriu uma microempresa para prestar serviços na área.

No entanto, três anos depois, tomou a decisão de pedir demissão da prefeitura e viver da arte. A companhia vende seus trabalhos por meio de umprocesso de levantamento das regiões administrativas (prefeituras e secretarias). Em seguida, despacha o portfólio, liga nas prefeituras ou secretarias, faz a negociação e, em caso de interesse, fecha a proposta e monta a logística.

Houve momentos que o trabalho da companhia teatral foi oferecido para aproximadamente 200 cidades, no entanto, somente 15 fecharam. “Chegamos a fazer apresentações em duas cidades no mesmo dia”.

O público varia de acordo com o trabalho que é feito pelo departamento de Cultura dos municípios e nãocom o porte da cidade, necessariamente. “Onde ocorre maior movimentação artística, o público é bom, caso contrário, é fraco. Já aconteceu decidades com 2 mil habitantes ter 150 pessoas na plateia e outras, com 30 mil habitantes, 40 pessoas na plateia”, compara.

Os contratantes, em muitos casos, bolam estratégias como sorteios para atrair o público. Diferente de apresentações em escolas, onde os estudantes acabam assistindo no horário de aula.

Multitarefa

Formado em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia, Fabrício também atua como professor e palestrante nas áreas de saúde, social e educação. Segundo ele, suas palestras são “reflexivas, construtivas e provocativas”.  “O público é bem receptivo, pois procuro envolver as pessoas que estão na plateia”, conta. Ele já viajou estados como o Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Paraná. Fabrício também promove oficinas de contação de histórias que duram de quatro a vinte horas. 

Para ele, a cultura é de total importância na formação e no crescimento das pessoas, pois agrega um enorme valor individual. “Os pais devem entender essa importância e permitirem aos filhos experimentarem algo do meio artístico, independe do segmento. Isso é de grande ajuda na formação eno desenvolvimento da criança. 

“Eu gosto de envolver a minha a plateia e fazer com ela cresça junto com o meu espetáculo”

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