Itapura – ressurgiu das águas

Hélio Consolaro
Hélio Consolaro
Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor, 75 anos. Oito livros publicados. Membro da Academia Araçatubense de Letras, foi vereador e secretário municipal de Cultura por oito anos.
Foto: Arquivo

Domingo de carnaval. Fui a Itapura, município de São Paulo, região de Araçatuba, 4 mil habitantes. Passei um dia lá, dormi numa pousada. Itapura é tão quente quanto os municípios do Oeste Paulista.

Itapura significa em tupi-guarani “pedra que emerge das águas”, o nome era uma predestinação. A cidade me chamava a atenção porque é um lugar (ainda não era município) que tem inserção histórica na época do império com a presença do Palácio do Imperador.

Na verdade, o imperador nunca esteve lá, mas, como antigamente não havia quem desmentisse nada, as lendas eram criadas por narrativas inventadas pela elite. 

O palácio, um pequeno castelo, foi construído em 1858, durante a Guerra do Paraguai. Era uma residência do comando naval da marinha brasileira. 

Nessa época não havia trem, nem estradas pelos sertões do Rio Feio (Aguapeí), a região era habitada pelos índios caingangues. Os militares para a Guerra do Paraguai chegaram lá por via fluvial, pois Itapura fica na foz do rio Tietê, despejando águas no rio Paraná. 

Itapura é um salto que desapareceu e uma cidade que ressurgiu com o represamento de águas que abastecem as barragens de Jupiá e de Ilha Solteira, segundo o repórter fotográfico Diego Gazola. Salto de Itapura e salto de Avanhandava tiveram o mesmo fim com as construções de hidrelétricas. As gerações atuais nem sabem disso. 

A nova cidade surgiu desnorteada, sem patrimônio histórico, pois a estação de ferro e as casas desapareceram da paisagem então transformada. O desvio ferroviário de Lussanvira chegava até Itapura, beirando o rio Tietê.

A única coisa que sobrou da antiga cidade inundada foi o Palácio do Imperador, que era uma residência do Comandante do Destacamento Naval. 

A placa do restauro do Palácio do Imperador – Foto: Arquivo

Outro aspecto que me chamou atenção:  em 2022, Lula da Silva (candidato a presidente do PT) e Fernando Haddad (candidato a governador do Estado de São Paulo) tiveram 70% dos votos de Itapura, contrariando a tendência paulista. A Câmara Municipal possui dois vereadores do Partido dos Trabalhadores, sendo uma mulher. 

Ao chegar em Itapura, o grande recepcionista foi o João da Padaria em sua lanchonete (ou quiosque) na prainha. Ele é  vereador e presidente da Câmara.  Erroneamente a prefeitura não promoveu carnaval em 2024, possuindo infraestrutura para tal, sendo Itapura uma cidade turística. Uma população tão acolhedora como a itapurense precisa eleger um prefeito (ou prefeita) em 2024 que desenvolva a vocação turística do município.

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