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Adelmo Pinho
Adelmo Pinho
Adelmo Pinho escreve a coluna Reflexão no TH+ Araçatuba. É articulista, cronista e membro da Academia de Letras de Penápolis e da Academia Araçatubense de Letras. Foi Procurador do Estado de São Paulo e está como Promotor de Justiça desde 1995.

Monteiro Lobato

Lobato é considerado fundador da literatura infantil brasileira. Em 1920, ele lançou “A menina do narizinho arrebitado

Foto: Divulgação | Editora Unesp

Monteiro Lobato foi promotor público no interior do estado de São Paulo, escritor, empreendedor e fazendeiro. Em 1918 passou a proprietário da Revista do Brasil, lançando a base da indústria editorial no país.

Cidadão idealista, chegou a ser preso em 1941, por contrariar interesse poderosos de multinacionais. Foi indultado por Getúlio Vargas, mas continuou perseguido pela ditadura durante o “Estado Novo”.

Lobato é considerado fundador da literatura infantil brasileira. Em 1920, ele lançou “A menina do narizinho arrebitado”, transmitido pela Tv, inclusive. Lobato publicou estudo sobre o “saci-pererê”, que tinha o pseudônimo “Demonólogo Amador”. Emília, a boneca de pano que falava, foi outra criação de sucesso dele.

Como escritor, Lobato marcou a história. Trago à baila aqui, também, outras de suas obras. Começo pelo conto, “Um suplício moderno”, de 1916, da obra “Urupês”; nele o personagem “Biriba” tem como inimigos o Estado e os políticos, com conteúdo de críticas ao nepotismo e às leis.

No trecho seguinte desse conto, isso fica evidente: “Note-se aqui a diferença entre os ominosos tempos medievos e os sobre-excelentes da democracia de hoje. O absolutismo agarrava às brutas a vítima e, sem tir-te nem habeas corpus, trucidava-a; a democracia opera com manhas de Tartufo, arma arapucas, mete dentro rodelas de laranja e espera aleivosamente que, sponte sua, caia no laço o passarinho. Quer vítimas ao acaso, não escolhe. Chama-se a isto – arte pela arte …”.

“Biriba”, tal personagem, consegue sair ileso das garras dos coronéis e do Estado, por obra do acaso. E desaparece: “… E nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima …”, como consta do final do conto.

Urupês, lançado em 1918, além de contos, tem o artigo, “Velha praga”, de 1914, denunciando as queimadas na Serra da Mantiqueira. Transcrevo trecho interessante do início desse conto, um apelo, em verdade, à causa ambiental: “Venha, pois, uma voz do sertão dizer às gentes da cidade que se lá fora o fogo da guerra lavra implacável, fogo não menos destruidor devasta nossas matas, com furor não menos germânico”.

Tem-se, também, o famoso conto que deu nome à obra “Urupês”, com a criação do personagem “Jeca Tatu”, que personificou a negativa de Lobato em idealizar o homem do campo, tornando-se um símbolo nacional. “Jeca Tatu” representa o caipira preguiçoso, vítima da miséria e da exclusão social.

O conformismo e a inação de “Jeca Tatu” predominam no conto. Veja-se um dos trechos que sedimenta o perfil do caboclo taciturno: “… Quando a palha do teto, apodrecida, greta em fendas por onde pinga a chuva, Jeca, em vez de remendar a tortura, limita-se, cada vez que chove, a aparar numa gamelinha a água gotejante …”.

Lobato marcou, certamente, pela sua habilidade de criar anti-herói. Negrinha, outra obra de Lobato, publicada em 1920, trouxe “As fitas da vida”, “O drama da geada”, “Bugio moqueado”, “O jardineiro Timóteo”, “O colocador de pronomes” e outros textos.

Em 1926, Lobato lançou seu primeiro e único romance adulto, “O presidente negro”, que abordou sobre o pensamento racista dominante na época. Essa obra é considerada como gênero de “utopia”, como a de Thomas More.

A ideia ficcional dela é o da extinção da raça negra, com a criação de uma “barreira de ódio” norte-americana, que evitaria a miscigenação entre brancos e negros (eugenismo humano – Lobato, 1951, pag. 207 – Editora Brasiliense Ltda). O fim da raça negra dar-se-ia em 2228; o romance apresenta, portanto, uma crítica ao racismo.

Edgar Cavalheiro afirma, em sua biografia de Lobato, que Oswald de Andrade considerava Urupês como o “Marco Zero” do movimento modernista no Brasil. Lobato também contribuiu como empresário para a realização da “Semana de Arte Moderna”, de 1922, como apontado por Rodrigo Gurgel, na obra Esquecidos & superestimados, Capítulo 15, que traz uma análise crítica de Urupês e Negrinha.

Gurgel discorda nesse texto de uma afirmação de Alfredo Bosi, para quem o escritor (Lobato) foi “um intelectual participante que empunhou a bandeira do progresso social e mental da nossa gente” – não passa de um “medíocre paisagista acadêmico” (afirmação que consta na História concisa da literatura brasileira, 34ª edição, revista e aumentada, Editora Cultrix, de Bosi, citada por Gurgel).

Gurgel rebateu no seu livro a afirmação de Bosi sobre Lobato: “Se considerar Lobato acadêmico é inaceitável – pois não foi um seguidor rigoroso dos modelos consagrados pela tradição nem se manteve infenso a inovações -, chamá-lo de medíocre parece-me escolha, no mínimo, inadequada”. Polêmica literária … 

A frase seguinte de Lobato é uma aula para a vida: “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”. Enfim, Lobato contribuiu para o movimento modernista no país, seja na condição de empresário ou de escritor. Foi um crítico voraz do Estado – tanto que foi preso – e da desigualdade social. O personagem “Jeca Tatu”, em meio a tudo isso, preguiçoso ou não, marcou época e deu – e dá, ainda – “recado” a muita gente …

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