Na casa do avô

Hélio Consolaro
Hélio Consolaro
Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor, 75 anos. Oito livros publicados. Membro da Academia Araçatubense de Letras, foi vereador e secretário municipal de Cultura por oito anos.
Foto: Arquivo | Hélio Consolaro

Durante a minha vida, tive dois sonhos de viagem ao exterior: Itália, para conhecer meus ancestrais, feita em 2013. Completei 65 anos comendo pizza com birra (cerveja) no calçadão de Milão; agora, Portugal, por ser nosso país colonizador e eu um professor do idioma. Comi muito bacalhau.

O euro foi a minha dificuldade. Ter a moeda de um país como referência ao mundo é uma forma de dominação. O real (nossa moeda) é desvalorizada para facilitar a exportação de produtos brasileiros. Enquanto o euro e o dólar são valorizados para que faturem alto na exportação de seus países.

Na época de FHC, o Brasil não suportou um real valer um dólar, porque as exportações brasileiras ficaram caras, perdíamos na concorrência com outros países. Daí o objetivo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) é retirar o dólar como referência. Toda vez que os Estados Unidos aumentam suas dívidas, pagam-nas com a subida do dólar, ou seja, põe o resto do mundo em sofrimento.

BARRADOS NO BAILE.  

Eu estava com a Fátima na livraria Bertrand, Lisboa, cheia de medalhas na porta. Tudo era melhor do mundo.

Exemplo de resistência do livro de papel. Se essa visita tivesse acontecido há anos, eu estaria com o coração aos pulos. Hoje adentro o local como se estivesse visitando um museu. Comprar em € não é bom negócio, aqui na Europa, tudo é caro. É a última facada dada pelo primeiro mundo, arrogante, no terceiro, torcendo o chapéu na mão.

Fátima disse que era melhor comprar em sebo no Brasil ou pela internet. Ou ir a uma biblioteca pública pedir um livro emprestado. Não foi uma visita agradável. Saímos de mãos vazias, com sensação de que havíamos sido barrados no baile.

QUANDO O POETA VIRA UMA ESTÁTUA

Estive cumprimentando Fernando Pessoa em “A Brasileira do Chiado”, se avizinhando com o monumento a Camões.

Nessa ocasião, que um poeta vira estátua, ele vira nada. Aí vem outro poeta folgazão e tira foto ao lado como se fosse uma consagração. Assim ocorreu com Fernando Pessoa em Lisboa. Aliás, na capital portuguesa, tão bela, não há nada por fazer, tudo está consagrado e consolidado.

AVOZINHO PORTUGAL

O poeta Manuel Bandeira escreveu um poema “Portugal, meu avozinho”, que foi musicado por Ary Barroso, eis uma das estrofes:

Tu de um lado, e do outro lado
Nós… No meio o mar profundo…
Mas, por mais fundo que seja,
Somos os dois de um só mundo

O poeta brasileiro foi bastante carinhoso com os portugueses no poema. Uma homenagem.

Quer viajar ao exterior, sem aquela sensação de ter saído do Brasil, vá até Portugal. O idioma é quase o mesmo. Lá você vai se encontrar com Pedro Álvares Cabral e Dom Pedro I nas ruas. Só não vai topar com Tiradentes, enforcado por D. Maria I, a Louca. O cara que queria independência do Brasil sem acordos, na marra. 

Os portugueses não são tão caridosos como nós, brasileiros, pois a velhice e a deficiência física não têm tratamento especial, entram na generalidade dos direitos humanos. Privilégio

na fila, nem pensar. Rampa em todos os lugares, inimaginável.

Basta ler a história de um país que foi colônia de Portugal, saberá como eram rudes e cruéis a elite lusitana.

FÁTIMA E APARECIDA
Como minha linda se chama Maria de Fátima, que quase morreu no parto, e foi salva por uma promessa da avó à santa, chegando a Portugal, fomos até o santuário rezar o terço, acender velas num domingo, 20/10/2024.

O santuário de Aparecida (século 18), no Brasil, é bem mais suntuoso, monumental. As ações dos peregrinos de Fátima (século 20) são acender velas e rezar o terço. Não encontrei a sala dos milagres, com muletas abandonadas, mas “Sala das Promessas”.

Nosso povo, principalmente os católicos, procuram a cura nos milagres dos santos e na figura da mãe de Jesus Cristo. Eles são o plano de saúde dos pobres.

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