Às vezes, a pessoa faz uma boa ação de longo alcance e pensa que tudo está acontecendo anonimamente, mas há um menino ou menina observando, guarda o que viu sem nenhum compromisso. Assim ocorreu comigo, eu era o menino.
Nos meus 15 anos, uma espécie de auxiliar de veterinário, trabalhava no antigo Posto Experimental de Criação, a antiga Fazenda do Estado (recinto de exposição). Uma área que era da família Almeida Prado, depois passou a ser do governo federal e em 1940 ao governo estadual, agora municipal.
Na década de 1960, o Posto Experimental de Criação tinha como chefe-geral, o veterinário Teófilo de Siqueira Branco. Era uma espécie de administrador de fazenda com formação universitária.
Dr. Teófilo, como os subordinados o chamavam, era tido como um sujeito esquisito, meio sistemático. A antiga Fazenda do Estado beirava a rua dos fundadores, sem asfalto. A antiga área (toda arborizada por ele) continua lá e a rua virou avenida de duas pistas que dá acesso à zona leste de Araçatuba.
Os transeuntes motorizados passam hoje pela avenida dos Fundadores preocupados com seus cartões de créditos e Pix e nem enxergam aquela belezura de mata deixando nossa respiração mais saudável. E eu vi o plantio daquelas árvores, muda por muda: aroeira, jequitibá branco etc. No vale do córrego Bela Vista (cerca de 1 km), também se tornou uma pequena reserva da fauna local.
Dr. Teófilo virou e mexeu, mexeu muito com a burocracia, com o auxílio de outros técnicos, construiu o seu sonho: arborizar as margens do Córrego Bela Vista que estava em processo de erosão. Ele tem a nascente à margem da rua Cabo Francisco de Alencar Rocha, bairro São Joaquim e deságua no ribeirão Baguaçu.
Lá perdidas no meio da mata, residiram até a pouco tempo em casas simples, parecidas com cenários de histórias de Chapeuzinho Vermelho, as famílias dos funcionários: Sebastião do Amaral, Jorge Policarpo, Antônio Adavantel e Josino Cardoso. Todos falecidos. Era um privilégio não pagar aluguel, mas o maior benefício foi morar na floresta.
Córrego Bela Vista era mais um curso d’água oferecido pela natureza (ou pelo Criador) para que a nossa vida seja mais amena, porém era entupido por objetos e sujeiras, na verdade uma autoagressão do ser humano a si mesmo.
Como bom administrador rural, Dr. Teófilo sabia que só o plantio das árvores (mata ciliar) interromperia a destruição. Seria a sua ressurreição.
Apesar de sua benfeitoria por Araçatuba, dotar a cidade de uma mata ciliar no centro, uma bela vista, não encontrei uma rua com seu nome. Enquanto há uma porção de desqualificados (as) homenageados (as) com tais honrarias.
Só agora na minha velhice, me lembrei de homenageá-lo, quando na minha juventude tive oportunidade de fazê-la. As memórias do menino ressurgiram.
AGRADECIMENTOS a Lucas Savério Proto, secretário municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade de Araçatuba que me tirou algumas dúvidas.