Pão e Circo

Hélio Consolaro
Hélio Consolaro
Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor, 75 anos. Oito livros publicados. Membro da Academia Araçatubense de Letras, foi vereador e secretário municipal de Cultura por oito anos.
Foto: Charge do Denny

Circo e pão. Elementos fundamentais de um governo populista, que agrada o povo com pouco, demagogicamente. Circo é a diversão, pão o alimento. Se a vida tem os dois, precisa de mais o quê? 

Circo é uma casa de espetáculo. Passou a ter picadeiro há alguns séculos atrás. Diziam que ele iria sumir com o advento da televisão, mas persiste. Muitas duplas caipiras, como Tonico e Tinoco (não falo de sertanejas) começaram a sua carreira cantando nos circos.

O Coliseu, ícone de Roma, foi antes um grande circo para 150 mil pessoas, tão massivo como as novelas da Globo. Chamava-se Circus Maximus. Atualmente, há até lona de circo para alugar, basta querer brincar de circo.

Em Araçatuba, sempre aparece um circo, de vários níveis. Um chegou a falir no final da rua Pedro Janser. Quando são chiques, só a burguesia frequenta sua plateia. Até seus dirigentes têm carros de último tipo e se hospedam em hotéis. A luta de classe também está debaixo da lona. 

Atualmente, está entre nós o Circus, tamanho médio, instalado precariamente naquele terreno no início da rua Marcílio Dias. Circo é mesmo sinônimo de gambiarra.

Na vida real, segundo os vizinhos Fábio e Renata, o palhaço do atual circo é um sujeito chato. Descobriram isso quando os tripulantes foram comer em seu restaurante.    

Palhaço é ladrão de mulher, mas como um sujeito tão chato poderia conquistar as mulheres da cidade? Antigamente os circos eram a magia que chegavam às cidades do interior, elas estavam procurando mesmo a liberdade, um mundo diferente. Nem desconfiavam que o machismo também se manifesta no circo. 

Em Mirandópolis, aconteceu ao contrário, a diretora de escola Sandra Rombi, fugiu do circo (trapezista) para ser professora. Os dois lugares apresentam a mesma magia: divertir e ensinar. Certamente, ela não era uma acrobata epilética.

Outro dia, nas imediações da lona, em Araçatuba, vi uma mãe descer do carro com três crianças. Levava-as ao circo como se estivesse indo à missa, ensinava o caminho que a sua mãe certamente a ensinou quando pequena. Era um rito. Tais crianças farão mesmo com seus filhos. Com essa tradição, o circo não vai morrer nunca.

Aproveito esta crônica para transmitir uma reivindicação do mundo circense: as prefeituras precisam ter terreno reservado aos circos em seus municípios, com toda infraestrutura para que se instalem com dignidade. Afinal, palhaçada acontece em qualquer lugar, até nas câmaras municipais. 

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