Surpresas do espetáculo

Hélio Consolaro
Hélio Consolaro
Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor, 75 anos. Oito livros publicados. Membro da Academia Araçatubense de Letras, foi vereador e secretário municipal de Cultura por oito anos.
Foto: Arquivo | Hélio Consolaro

Ainda bem que a vida surpreende os viventes e os sobreviventes (os idosos) em sua trajetória. De repente, o estabelecido é pego no contrapé com novas iniciativas.

Durante a semana, os dirigentes do espetáculo “Soul lua & mar e a poesia encantada” insistiram na minha presença. Comprei os ingressos (R$25,00 cada) e fui com minha convidada.

Não houve patrocínio, nada de incentivo fiscal ou financiamento público. Na raça. Não foi entregue um prospecto com informações técnicas, autorias e elenco. Eu nem tirei foto. Pensei: “Pego no site”. Não achei nada! Nem no Facebook. A produção era toda marginal no sentido pleno, começando pelo econômico.

Não lotou o teatro, mas chegou à metade. O som não era de última geração, mas quebrou o galho. Será que pagaram o aluguel do uso do teatro?

E a poesia! Bem cortante. Do poeta araçatubense Mário Bueno, que na entrada do teatro distribuía seus poemas escritos. No estilo marginal da década de 1970, Geração Mimeógrafo.

A duração do espetáculo: três horas, entremeadas com discursos de denúncia social: feminicídio e racismo. Discurso mesmo, falado, sem narrativa ou representação. Ninguém se levantou para sair, por cansaço ou protesto. Todos usufruíram do último centavo.

“Soul Lupércio” é o nome da banda em homenagem ao tio do Dario Rosa. Por quê? Lupércio ensinou música ao sobrinho que hoje é psicólogo.

Dario Rosa, 56 anos, psicólogo, líder da banda desfiou o repertório de MPB, mas não é a mesma coisa de ouvir a rádio Nova Brasil, porque foram selecionadas e cantadas e tocadas com o coração.

“A carne”, de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti, cujo refrão é “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, que foi sucesso ao ser gravada por Elza Soares foi cantada por Dario Rosa num tom especial. Faltou o refrão paralelo: a carne mais perseguida do mercado é a mijada.

O espetáculo também escandalizou os gordofóbicos, pois Ana Carolina Martins que gritou a favor dos negros não tinha o padrão de beleza da mídia.

Para dizer que não falei de todos, eis os ocupantes do palco. Banda Soul Lupércio: Dario, Carlos, Leonardo, Bruno, Paulo, Robert, Gabriela e Marla. A favor dos negros: Ana Carolina Martins; a favor das mulheres: Meriéllen Cristina Gomes; bailarinas: Ana Carolina Dias e Amanda Kimura.

Tomara que tenhamos outras surpresas!

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