Ainda bem que a vida surpreende os viventes e os sobreviventes (os idosos) em sua trajetória. De repente, o estabelecido é pego no contrapé com novas iniciativas.
Durante a semana, os dirigentes do espetáculo “Soul lua & mar e a poesia encantada” insistiram na minha presença. Comprei os ingressos (R$25,00 cada) e fui com minha convidada.
Não houve patrocínio, nada de incentivo fiscal ou financiamento público. Na raça. Não foi entregue um prospecto com informações técnicas, autorias e elenco. Eu nem tirei foto. Pensei: “Pego no site”. Não achei nada! Nem no Facebook. A produção era toda marginal no sentido pleno, começando pelo econômico.
Não lotou o teatro, mas chegou à metade. O som não era de última geração, mas quebrou o galho. Será que pagaram o aluguel do uso do teatro?
E a poesia! Bem cortante. Do poeta araçatubense Mário Bueno, que na entrada do teatro distribuía seus poemas escritos. No estilo marginal da década de 1970, Geração Mimeógrafo.
A duração do espetáculo: três horas, entremeadas com discursos de denúncia social: feminicídio e racismo. Discurso mesmo, falado, sem narrativa ou representação. Ninguém se levantou para sair, por cansaço ou protesto. Todos usufruíram do último centavo.
“Soul Lupércio” é o nome da banda em homenagem ao tio do Dario Rosa. Por quê? Lupércio ensinou música ao sobrinho que hoje é psicólogo.
Dario Rosa, 56 anos, psicólogo, líder da banda desfiou o repertório de MPB, mas não é a mesma coisa de ouvir a rádio Nova Brasil, porque foram selecionadas e cantadas e tocadas com o coração.
“A carne”, de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses Cappelletti, cujo refrão é “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, que foi sucesso ao ser gravada por Elza Soares foi cantada por Dario Rosa num tom especial. Faltou o refrão paralelo: a carne mais perseguida do mercado é a mijada.
O espetáculo também escandalizou os gordofóbicos, pois Ana Carolina Martins que gritou a favor dos negros não tinha o padrão de beleza da mídia.
Para dizer que não falei de todos, eis os ocupantes do palco. Banda Soul Lupércio: Dario, Carlos, Leonardo, Bruno, Paulo, Robert, Gabriela e Marla. A favor dos negros: Ana Carolina Martins; a favor das mulheres: Meriéllen Cristina Gomes; bailarinas: Ana Carolina Dias e Amanda Kimura.
Tomara que tenhamos outras surpresas!