Há quase cinco décadas, a banda britânica Supertramp lançou The Logical Song, uma canção que se tornou, rapidamente, um hit nacional.
Uns dizem que a letra é um relato de perda da inocência e do idealismo, com Roger Hodgson condenando um sistema educacional que não é focado no conhecimento nem na sensibilidade. Tem sentido ainda hoje se olharmos para o mundo real, onde conflitos são intermináveis, sobretudo considerando que a política é inerente aos atos do ser humano. Há vários caminhos para entendê-la.
Para o ex-vocalista da banda, o tema nasceu de sua própria indignação frente às possíveis contradições que os adolescentes enfrentam ao atingirem este mundo real, no qual as verdades ingênuas de antes vão descontruindo os seus sonhos de menino. Pouco a pouco, as palavras vão perdendo o sentido, tornando-se ora pesadas e até cruéis, ora divertindo-se nas metáforas do cotidiano. É a história de quando deixamos a infância (quase sempre de um irretocável ambiente de acolhimento) para os novos desafios escolares. Para as coisas do mundo, a busca de uma identidade.
Quando eu era jovem, parecia que a vida era tão maravilhosa, um milagre, ela era bonita, mágica e todos os pássaros nas árvores, bem, eles cantavam tão alegremente, cheios de alegria, brincalhões me observando, mas então eles me mandaram embora, para me ensinar como ser sensato, lógico, responsável, prático. E eles me mostraram um mundo onde eu podia ser tão confiável, clínico, intelectual, cínico.
E mais perguntas profundas no ar.
Agora cuidado com o que diz, ou eles te chamarão de radical, um liberal, fanático, criminoso. Ou você não vai assinar o seu nome?
Nós gostaríamos de sentir que você é aceitável, respeitável, apresentável, um vegetal.
Ao final, o inevitável questionamento.
A noite quando todo o mundo dorme, as perguntas vão tão profundamente para um homem tão simples. Você não me diria, por favor, por favor, o que nós aprendemos? Eu sei que parece absurdo, mas por favor me diga quem sou eu, quem sou eu…
Diante de toda incerteza e muito distante da década de 1970, o compositor concluiu, em sua página oficial no Facebook, que “durante toda a infância, somos ensinados sobre todos os modos de ser e ainda
assim raramente se fala sobre o nosso verdadeiro “eu”.
“Somos ensinados como agir exteriormente, mas não orientados como agir por dentro. Vamos da inocência e da maravilha da infância para a confusão da adolescência, que muitas vezes termina no cinismo e desilusão da vida adulta”. A música, de fato, é transformadora, sobretudo quando o poder maior reside nas palavras. (Hélio Negri)