RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A inflação do grupo alimentação e bebidas perdeu força em junho no Brasil, o que pode sinalizar uma redução do impacto nos preços causado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, segundo economistas.
A carestia da comida, contudo, ainda pressiona o bolso dos consumidores, de acordo com dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados nesta quarta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em junho, os preços de alimentação e bebidas subiram 0,44% no país, abaixo do avanço de 0,62% em maio. Ainda assim, o segmento teve o maior impacto no IPCA entre os nove grupos de produtos e serviços que compõem o índice oficial de inflação. A contribuição foi de 0,10 ponto percentual.
Na média geral, o IPCA desacelerou a 0,21% em junho, após marcar 0,46% em maio. Isso mostra que a carestia da comida segue em patamar superior ao índice como um todo.
Considerando somente os alimentos consumidos dentro de casa, que integram o cálculo de alimentação e bebidas, os preços subiram 0,47% em junho, abaixo do avanço de 0,66% em maio.
No quinto mês do ano, parte dos produtos havia sido pressionada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, segundo o IBGE.
Principal produtor de arroz do Brasil, o estado amargou perdas em plantações com a tragédia climática. As chuvas ainda destruíram estradas e pontes, dificultando o transporte de mercadorias.
Na visão de economistas, é possível que os impactos da catástrofe estejam se dissipando no IPCA ou não sejam tão graves como as previsões sinalizaram em um primeiro momento.
“Aparentemente, [a tragédia das chuvas] não teve um impacto tão significativo”, diz André Valério, economista sênior do banco Inter. “O próprio governo tem falado que não vê mais necessidade de fazer o leilão de arroz.”
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou na semana passada a suspensão do certame. O leilão buscaria elevar a oferta interna do cereal e, assim, conter a inflação. Após críticas da oposição e de produtores, o governo voltou atrás e agora negocia com o agronegócio um acordo para controlar os preços.
Segundo o IBGE, a inflação do arroz foi de 2,25% em junho, acima da alta de 1,47% em maio. O instituto destacou ainda que a batata-inglesa (14,49%), o leite longa vida (7,43%) e o café moído (3,03%) também pressionaram o resultado dos alimentos no IPCA.
Mercadorias como cenoura (-9,47%), cebola (-7,49%) e frutas (-2,62%), por outro lado, caíram no mês passado. Esse movimento ajudou a segurar a inflação da comida no país.
No caso das frutas, o IBGE destacou a redução do mamão (-17,31%) e da banana-prata (-5,68%) em meio a fatores como o aumento da oferta.
Na avaliação da economista Claudia Moreno, do C6 Bank, o IPCA de junho mostra que os efeitos inflacionários da calamidade gaúcha começam a ficar no retrovisor.
“Os preços da alimentação no domicílio desaceleraram de 0,66% para 0,47% na passagem de maio para junho, indicando que o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul na inflação desse grupo começa a se diluir”, disse Moreno em relatório.
Ela ainda chamou atenção para números da região metropolitana de Porto Alegre. Em junho, os alimentos consumidos no domicílio tiveram queda de 0,88% na metrópole gaúcha, após forte alta de 3,64% em maio.
André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA, ponderou que a redução em Porto Alegre devolve apenas uma parte da pressão anterior.
“Os preços continuam mais altos do que aqueles antes da situação de calamidade. Porém, a gente teve em junho uma leve correção, uma leve redução”, disse o pesquisador do IBGE.
LEONARDO VIECELI / Folhapress