Um homem negro, de 34 anos, acusa a Polícia Militar de racismo após uma abordagem violenta, sendo agredido pelos agentes com tapa no rosto, derrubado no chão e algemado à força no bairro Encruzilhada, em Santos, litoral paulista. A corporação ordenou que o indivíduo levantasse a blusa e as mãos enquanto o mesmo andava com seus gatos. Segundo o abordado, ele teria passado a noite toda apanhando.
O caso aconteceu na madrugada da última segunda-feira (9), por volta das 2h. O homem, que trabalha na Petrobras, passeava com seus animais de estimação pois no dia seguinte faria uma viagem. Minutos depois de estar na rua, próximo ao edifício onde mora, uma viatura, com os faróis apagados parou, e um agente com armas em punho desceu e já o abordou.
A vítima questionou o sentido da abordagem, sendo derrubado no chão e algemado à força. Ele foi colocado no porta-malas da viatura e levado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Central, no bairro Vila Mathias, onde foi atendido sob escolta policial. No histórico clínico consta o exame físico que identificou lesões pelo corpo com equimose na parte superior do rosto esquerdo.
Posteriormente ao atendimento, o homem foi encaminhado à Central de Polícia Judiciária (CPJ), onde o boletim de ocorrência foi registrado apenas com a vesão dos policiais, sendo o abordado liberado apenas às 6h da manhã, sem o direito de ser ouvido.
“Na delegacia um agente ainda ficou dizendo que lugar de bandido era na cadeia. Como assim? […] Eu trabalho, sou administrador, faço licitação pública, trabalho com consórcios, enfim, mais ou menos quatro ou cinco anos nisso […] tô nesse trabalho desde 2018, passei na prova e fui morar no Rio e depois voltei pra cá (referindo-se a cidade de Santos) […] e no boletim saiu que eu fui agressivo, que fui pra cima deles, eu tenho um metro e meio, bater neles? Como? Vou fazer o que com dois policiais armados, é muito absurdo. […] sabe o que eu quero saber? O que aconteceu? Por que fizeram isso? Pra mim foi racismo, e olha não é a primeira vez isso, já passei por abordagens outras vezes, mas com essa violência, sabe, só que desta vez, foi demais o que fizeram comigo, acho que nem eles sabem explicar o tamanho do absurdo”, desabafou o homem.
Os dois gatos estão bem, e foram conduzidos no porta-malas junto com o jovem, dentro da bolsa. A denúncia foi feita à Ouvidoria Pública da Polícia Militar e o caso será levado à Defensoria Pública e às organizações de Direitos Humanos.
“Não tem outra resposta para a atitude deles, racismo, sim, não dá pra explicar, já passei por outras situações, mas essa foi, assim, extrapolou, eu passei a noite toda apanhando, soco, intimidação, dessa vez eu vou falar, eu quero falar sobre isso, basta!”, enfatizou o homem.
O que diz a PM
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), policiais militares foram acionados devido ao disparo de um alarme. No local, um homem de 34 anos foi encontrado próximo à porta de ferro de um estabelecimento (Farmácia Droga Raia). Durante a abordagem, ele teria ofendido um dos policiais, que precisou contê-lo. Ambos receberam atendimento médico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central e, depois, foram encaminhados à delegacia. A Polícia Militar também apura o caso por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). O caso foi registrado como desacato e lesão corporal durante intervenção policial e está sendo investigado pelo 7º Distrito Policial de Santos.
No boletim de ocorrência, um dos agentes relatou ainda que o homem abordado estava sentado junto à porta de ferro do estabelecimento, o que provavelmente, teria acarretado o acionamento do alarme. Ele ainda teria questionado se a abordagem seria pelo fato de ser negro, e teria xingado diversas vezes os policiais.