A Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos, vai ser palco para o lançamento do livro “Os Cadernos de Pagu”. A obra é da escritora Lúcia Teixeira, biógrafa de Patrícia Galvão (Pagu), que será lançada no dia 11 de novembro.
Lúcia explicou os motivos para detalhar mais sobre a vida de Pagu, que foi um marco para a cultura da Baixada Santista e do Brasil.
“Esse amor pelo teatro se inicia nos manuscritos que reproduzimos e até a entrega total ao fazer teatral, como gestora, tradutora, fazendo da transgressão ato criador, até sua morte, nos anos 1960, em textos belíssimos”.
Pagu está de volta em cinco cadernos manuscritos inéditos dos anos de 1920 a 1960 (até sua morte), revelando aspectos desconhecidos, a partir da incursão de Pagu no Modernismo Antropofágico, a produção de texto na fase de adesão político-partidária, seus primeiros passos como dramaturga, em inéditas peças teatrais, a partir de 1931, além de escritos sobre literatura e outros escritores e algumas cartas para Oswald de Andrade e Geraldo Ferraz, entre outros.
Voz da mulher
Para a autora, Pagu continua sendo a voz que clama, em um mundo ameaçado pela morte e desintegração, como o que vivemos, pela conciliação necessária do papel do pensador, do escritor, entre o trabalho e a cultura. Lúcia também destaca o interesse de Pagu pelo teatro já em suas primeiras produções, inéditas.
“Em 1933, ela lança ‘Parque Industrial’, primeiro romance social proletário brasileiro, modernista e precursor, assinando Mara Lobo. Pagu analisou de forma crítica sua própria produção, fazendo um balanço da Literatura Moderna do Brasil. No Suplemento Literário do jornal O Diário de São Paulo, em 1946, contestou ‘a fanática gente da literatura social’”.
Outra descoberta nos manuscritos foi a defesa das mulheres, exploradas em sua condição de gênero social ou como trabalhadoras.
“E, mais do que isso, aparece o papel do racismo na questão da opressão de gênero e manutenção das desigualdades estruturais”, completa Lúcia.
Legado
O escritor Ruy Castro destaca Lúcia Teixeira como uma tutora inestimável do legado de Pagu.
“Tudo que nasceu das mãos e do coração de Pagu importa – e é isto que Lúcia nos oferece a cada título. O último, mas não o derradeiro, é este Os Cadernos de Pagu, um apanhado de manuscritos, esboços e rabiscos que nunca tinham saído das gavetas, trazendo à luz ficções, cartas, provocações, reflexões e peças de teatro de cuja existência nem suspeitávamos. O simples fato de terem chegado ao nosso tempo é um milagre. O de estarem agora em nossas mãos é um milagre e meio”.
Marcelo Nocelli, da Editora Reformatório, comenta que a obra nos aproxima de Pagu. “Ter estes manuscritos da Pagu publicados em livro é não só um registro para tornar este material mais acessível e conhecido, mas também um excelente objeto de estudo e pesquisa da vida e obra de Patrícia Galvão”, conta.
“São anotações, rascunhos, ideias para livros e peças de teatro, livros iniciados, e até uma lista de compras pessoal, que nos permite não só uma crítica genética do seu trabalho como escritora, mas também nos possibilita perceber de maneira mais sublime, seu estado de espirito em cada fase, em cada mudança e escolha de caligrafia, em cada acontecimento em sua vida”, emenda .
“Se eu acreditasse na ideia de comunicação além-morte-vida, diria que ela deve estar feliz com isso. Posso afirmar que manipular estes originais é uma das minhas maiores realizações como editor, e agradeço a Lúcia Teixeira pela confiança”, finaliza.