SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Saúde confirmou duas mortes por febre oropouche na Bahia. Até o momento, não havia relato na literatura científica mundial sobre a ocorrência de óbito pela doença.
A investigação dos casos foi feita pela Secretaria de Estado da Saúde da Bahia, que já havia registrado os óbitos, mas aguardava confirmação por parte do Ministério da Saúde.
Os casos foram registrados em duas mulheres de 22 e 24 anos, sem comorbidades, nas cidades de Camamu e Valença, respectivamente.
Segundo a pasta, a detecção de casos foi ampliada para todo o país em 2023, após o Ministério da Saúde disponibilizar de forma inédita testes diagnósticos para toda a rede nacional de Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen).
Até então, os casos se concentravam na região Norte do Brasil. Neste ano, já foram registrados 7.236 casos de febre oropouche, em 20 estados brasileiros. A maior parte deles foi registrada no Amazonas e Rondônia.
Um artigo assinado por 20 especialistas em versão inicial para revisão, postado no dia 16 de julho, analisa as duas mortes na Bahia e reforça a necessidade de um sistema de vigilância ativo e eficiente para controlar a disseminação do vírus.
Segundo a publicação, a primeira morte aconteceu no dia 27 de março, em Valença. A paciente começou a apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, dores musculares, intensa dor abdominal, diarreia, náuseas, dor retro-orbital e vômitos no dia 23 do mesmo mês.
A segunda paciente teve início de sintomas como febre, mialgia, dor de cabeça, dor retroorbital, dor nos membros inferiores, astenia e dor nas articulações no dia 5 de junho. Quatro dias depois, desenvolveu uma erupção avermelhada e manchas roxas no corpo, bem como sangramento no nariz, gengiva e vaginal.
Ela foi admitida em uma unidade de saúde no Hospital Municipal de Camamu e, após nove horas, foi transferida para um hospital em Itabuna, no sul da Bahia. A jovem de 21 anos morreu duas horas após a admissão.
Neste caso, após uma investigação epidemiológica, descobriu-se que o avô da paciente apresentou uma doença febril aguda 20 dias antes de a paciente começar a apresentar sintomas e testes sorológicos, que mostraram que ele tinha evidências de infecção recente pelo vírus Orov.
“Um aumento na ocorrência de casos dessa doença foi observado no estado da Bahia, onde a rápida disseminação do vírus é configurada como um surto nas macrorregiões sul e leste, de grande preocupação para a saúde pública”, diz a publicação.
TRANSMISSÃO VERTICAL
Estão ainda em investigação seis casos de transmissão vertical (de mãe para filho) da infecção da febre do oropouche. São três casos em Pernambuco, um na Bahia e dois no Acre. Dois casos evoluíram para óbito fetal, houve um aborto espontâneo e três casos apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia.
As análises estão sendo feitas pelas secretarias estaduais de saúde e especialistas, com o acompanhamento do Ministério da Saúde, para concluir se há relação entre a febre oropouche e casos de malformação ou abortamento.
No último dia 11, a pasta emitiu uma nota técnica a todos os estados e municípios recomendando a intensificação da vigilância em saúde após a confirmação de transmissão vertical do vírus oropouche pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), que identificou presença do genoma do vírus em um caso de morte fetal e de anticorpos em amostras de quatro recém-nascidos.
ENTENDA A DOENÇA
A febre oropouche é transmitida pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim.
O quadro clínico é semelhante ao da dengue e da chikungunya. Os sintomas são dor de cabeça, dor muscular e articular, febre, tontura, dor atrás dos olhos, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos.
Parte dos pacientes pode apresentar recorrência dos sintomas ou apenas febre, dor de cabeça e dor muscular após uma a duas semanas do início das manifestações iniciais. Os sintomas duram de dois a sete dias, em média. Na maioria dos pacientes, a evolução da febre do oropouche é benigna e sem sequelas.
O vírus foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960, a partir de amostra de sangue de uma bicho-preguiça capturada durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no Brasil, principalmente nos estados da região Amazônica.
Também já foram relatados casos e surtos em outros países das Américas Central e do Sul (Panamá, Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela).
LUANA LISBOA / Folhapress