Neurociência, em busca de uma melhor qualidade de vida

Créditos: Divulgação

Um campo que tem se destacado nos últimos anos é o da neurociência. Inúmeros neurocientistas brasileiros têm liderado pesquisas pelo mundo, colocando estudos que transformam diversos paradigmas. Para citar um deles está o médico Miguel Nicolelis, com sua pesquisa de próteses controladas pela mente.

Aqui neste espaço teremos vários entrevistados e artigos que contribuirão para essa discussão e levarão muita informação para os leitores.

Para começar falaremos sobre os processos de aprendizagem, e aproveito para retirar pontos de uma entrevista que dei para a Revista Mente e Cérebro recentemente.

A relação de estudar é simples: quanto mais estudar mais aprendemos e mais as partes do cérebro que são utilizadas mais se desenvolvem. Portanto, a primeira vez que se praticar uma atividade será mais complicado do que após meses praticando. Então a primeira dica é ter paciência, pois sem ela você mal começa. Segundo é ter determinação, para manter com disciplina aquele estudo. Uma questão que é muito importante é saber quais os tipos de inteligência que você tem mais predominantemente, Howard Gardner nos apresenta as múltiplas inteligências, o que significa que tem pessoas com mais facilidade em aprender determinada atividade do que outra. Quem tem uma inteligência musical mais aflorada, vai ter mais facilidade de aprender a tocar algum instrumento, por exemplo. Quanto ao tempo mínimo vai depender de cada pessoa, e as áreas neurais envolvidas.

Quando criança o cérebro ainda está se constituindo, e a produção de mielina, por exemplo, na infância permite uma facilidade maior em aprender, pois a flexibilidade é maior, o cérebro é mais plástico. Isso proporciona uma maior influência exterior sobre as habilidades cognitivas. Em outras palavras o que você ensinar para uma criança pode ser mais facilmente captado, do que na fase adulta quando essas relações já se fixaram. Para simplificar, podemos dizer que o cérebro infantil é mais flexível do que o adulto, o que proporciona maior facilidade para aprender. Ainda existe um outro aspecto que é o meio ambiente dos dois. Uma criança provavelmente vai estar mais concentrada em poucas atividades e sem o excesso de informação poderá absorver melhor o que aprender, do que um adulto. E por fim, ainda a questão do sono, que já sabemos que grande parte do processo de aprendizagem e memorização acontece em repouso, algo que as crianças têm muito mais do que adultos é a oportunidade de dormir.

Uma das melhores formas de aprendizagem é por associação. Se todos soubessem a predominância do seu canal de comunicação seria perfeito. Existem pessoas que são mais visuais, outras auditivas e um terceiro grupo que são as cinestésicas. Para os visuais fazer associações visuais e exemplos visuais desse conhecimento novo a pessoa absorveria bem mais. Por outro lado, podemos também remeter aos tipos de memória, memória de trabalho, curto prazo, médio e longo prazo. Se ao estudarmos podermos associar a alguma informação que já está na memória de longo prazo, isso facilitará o processo de absorção da informação. É muito comum ao estudar, professores passarem conteúdos associando com alguma música já conhecida (memória auditiva), na hora que a pessoa for relembrar ela vai ouvir a música em sua cabeça e lembrar do conteúdo associado.

As vezes ouvimos críticas ao decorar, porque muitas vezes este tipo de conteúdo é volátil, pois se trabalha mais a memória de trabalho, não de longo prazo. O que isso significa? Que muitas coisas decoradas no longo prazo desaparecerão, mas para um período curto, próprio para provas, será útil. A melhor forma de decorar é associar o conteúdo a objetos ou pessoas que lembrem daquele conteúdo. Na hora que precisar acessar aquela informação a pessoa lembra do objeto ou pessoa e traz o conteúdo junto, é como se fossem vasilhas com etiquetas, que ao trazer a tona a etiqueta vem junto a vasilha com a informação. Etiquetas que podem ser traduzidas em acrônimos, abreviações ou siglas que trazem o conteúdo correspondente quando necessário.

Existem processos químicos e físicos no processamento das informações e retenção das mesmas, através das memórias. O que acontece muitas vezes é uma sobrecarga de informações provocando um desgaste desse sistema. Uma pessoa que está passando um momento de estresse por exemplo, com uma diminuição de oxigênio no cérebro, vai ter maior dificuldade de relembrar certos fatos da memória de longo prazo, por estar com dificuldade na realização das sinapses, que é a comunicação entre esses neurônios.

Dependendo de como foram memorizados, terão mais facilidade ou não de serem resgatados. Eu costumo dizer que toda memória que foi ativada por um processo emocional, que envolve o Sistema Límbico, se torna mais sólida. Por isso, associar informações com pessoas ou situações que tragam emoções é bem mais eficiente do que simplesmente uma decoreba.

Ligar fatos a pessoas, ou situações importantes para você é uma dica bem razoável. Associar a imagens, de preferência que tenham relevância para você também. Por exemplo, eu lembro do dia que comecei a dar aula na faculdade (08/03/1993) porque liguei esse dia ao calor que fazia, e todos estavam bem suados e cansados. Lembro dessa foto e liguei ao número, pronto. Quando quero lembrar o dia que comecei, lembro dessa foto e surge a data. Ligar a fatos, situações, como um mapa da mina, para buscar a informação é o mais fácil. Seja uma música, seja uma piada, não importa, o cérebro liga os pontos com mais facilidade quando a informação vem associada. Uma outra coisa fundamental é fazer exercícios de tempo em tempo, pois o cérebro precisa oxigenar, então ficar parado por muito tempo estudando sem intervalos é ruim. Quando for memorizar algo, tente se concentrar naquilo que está trabalhando, foco é essencial.

Espero que tenha gostado desse primeiro artigo e continue conosco, periodicamente colocaremos mais informações e entrevistas como citado na apresentação. Boa semana!

Por Ari Brito

Professor universitário de graduação e pós-graduação, palestrante e neurocientista, com mestrado em Comunicação e pós graduado em neuropsicologia e psicologia positiva. Membro da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento. Apresentador do Programa Pessoas de Valor. Speaker TEDx, fundador e executivo da Marca Pessoal Treinamentos, com mais de 100 mil pessoas impactadas em todo Brasil.

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