Esta semana quero trazer um pouco da química da felicidade e mostrar como a neurociência tem ajudado na compreensão dos processos do cérebro e feito cientistas trabalharem em busca de medicamentos e tratamentos que possam melhorar a nossa qualidade de vida levando felicidade e bem-estar a um número maior de pessoas.
Existe uma pesquisa publicada pela ONU, a World Happiness Report, que mede o grau de felicidade de uma nação e que usa critérios como saúde, dinheiro, liberdade e uma rede de apoio social para definir os países com a população mais feliz do mundo. Finlândia, Dinamarca e Islândia são líderes no ranking que traz o Brasil na 38ª posição (2022).
Mesmo com todos tratamentos existentes o número de pessoas identificadas pelo IBGE com depressão no Brasil pulou de 7,6% em 2013 para 11,3% pós pandemia e tende a crescer. Claro, que o diagnóstico ficou mais preciso, muitas pessoas que sofriam deste mal tinham preconceito de buscar tratamento e, portanto, não eram identificadas pelo Sistema de Saúde, o que contribui para este aumento. Mas de qualquer forma o número é muito grande.
Por isso, trago um pouco do conhecimento da neurociência para contribuir com esta questão, inclusive com uma polêmica pesquisa publicada em 2022 por cientistas ingleses que revisaram 17 grandes estudos e avaliaram mais de 100 mil pessoas e que chegaram à conclusão que não existe relação entre a depressão e os baixos níveis de serotonina no cérebro, o que pode mudar muitos tratamentos antidepressivos que trabalham dentro deste paradigma.
Para entender melhor esta questão da serotonina vou apresentar os quatro principais neurotransmissores/hormônios ligados tradicionalmente à felicidade.
A serotonina é encontrada no sistema nervoso central, trato intestinal e plaquetas e é considerada um regulador do humor e dos sentimentos, incluindo a felicidade e a ansiedade, além de ajudar no controle do sistema de sono e vigília, movimentos da digestão, coagulação do sangue e até impacta nas funções sexuais do corpo.
A falta de serotonina no corpo pode resultar em carência de emoção racional, sentimentos de irritabilidade e autoestima baixa, crises de choro, alteração do sono e muitos outros problemas emocionais, além de vários estudos ligarem a falta de serotonina a problemas mais graves de saúde como Mal de Parkinson, distonia neuromuscular, Mal de Huntington, tremor familiar, síndrome das pernas inquieta, depressão, ansiedade, agressividade e comportamento compulsivo.
A dopamina é um dos mais conhecidos neurotransmissores, pois foi largamente utilizado em literaturas motivacionais e de autoajuda, já que é relacionada ao sistema de recompensa do cérebro, que direcionado pode potencializar as atividades humanas. Ficou conhecido como o hormônio do prazer. Também é ligada à empatia e ao reconhecimento, por isso é muito trabalhada em treinamentos de liderança e metas.
As endorfinas, são conhecidas como o hormônio do bem-estar, porque funcionam como um analgésico natural, liberadas após atividades físicas. Aquela sensação de prazer depois de um treino puxado é efeito da liberação de endorfina pelo hipotálamo e pela glândula pituitária, que ajudam a reduzir os efeitos da dor, inclusive em outras experiências dolorosas como uma perna quebrada ou outro desconforto maior. A falta de endorfina no corpo traz o aumento de dores (principalmente enxaquecas), mau humor, problemas para dormir e até um risco de depressão, ansiedade e vícios.
A oxitocina é produzida pelo hipotálamo, dentro do Sistema Límbico, e é conhecida como o hormônio do amor, já que é liberada quando estamos apaixonados. Ela é importante para ligar e desligar processos no sistema nervoso regulando as sensações humanas. É interessante que a oxitocina inibe as respostas de medo no cérebro, potencializando a desinibição, além de reduzir a liberação do hormônio ACTH, o que reduz a produção de cortisol, responsável pelo estresse no organismo.
Existem outros aspectos e componentes que podem ser relacionados à felicidade, mas conforme as pesquisas vão avançando as possibilidades aumentam de descobertas de novos tratamentos e como consequência podermos reduzir esta estatística.
Além destes neurotransmissores ainda temos novas descobertas em pesquisas recentes sobre a importância da neurotensina, que é responsável pela classificação das memórias como positivas ou negativas. Um estudo recente mostrou dependendo da quantidade de neurotensina disponível no organismo temos propensão a lembrar de coisas boas ou ruins, quanto maior a quantidade mais lembranças positivas acessamos.
A substância circula por todo o sistema nervoso, embora sua maior concentração esteja no hipotálamo (que regula funções básicas, como sede, apetite, temperatura corporal e pressão arterial) e na amígdala (ligada ao comportamento social, ao controle das emoções e ao medo). Portanto, segundo os pesquisadores, se a neurotensina ficar muito abaixo do normal abre caminho para depressão e ansiedade. Isso, porque ela tem também uma função importante no cérebro que é controlar a quantidade de dopamina produzida, então tudo está interligado e em breve muitas novidades vão afetar as nossas vidas.
Em tempos de inteligência artificial, fica cada vez mais claro, que a inteligência emocional vai ser um diferencial para as novas gerações, e atributos como empatia, criatividade e relações interpessoais se tornarão cada vez mais exigidos. A neurociência apenas estuda, mas cabe aos pesquisadores e sociedade saber o que fazer com tantas descobertas para melhorar a nossa felicidade e bem-estar nos próximos anos.
Por Ari Brito
Professor universitário de graduação e pós-graduação, palestrante e neurocientista, com mestrado em Comunicação e pós graduado em neuropsicologia e psicologia positiva. Membro da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento. Apresentador do Programa Pessoas de Valor. Speaker TEDx, fundador e executivo da Marca Pessoal Treinamentos, com mais de 100 mil pessoas impactadas em todo Brasil.