Santos é uma das referências no surfe brasileiro. Desde o final da década de 1930, a cidade foi pioneira com a fabricação de pranchas e agora também virou referência em promover o esporte para pessoas com deficiência. Para isto, pranchas adaptadas foram criadas e elas viraram modelo para o mundo.
Tudo começou em 1996, quando a Escola de Surfe Pública da cidade recebeu um aluno cego. Na época não haviam professores e equipamentos especiais para atender o rapaz. Foi aí que o atual coordenador da escola, Cisco Araña, inovou e criou uma prancha adaptada para atender da melhor forma possível esse aluno para que ele pudesse surfar. Ele lembra esta história com carinho.
“Ao longo de 10 anos, eu desenhei essa prancha com as suas especificidades e ela foi lançada no final de 2006. Era bem simples, mas super eficiente. Com o desenho permanente, com um deck tátil sobre o equipamento, ficou uma leitura fácil. Fizemos cerca de dez adaptações que melhoravam a didática do professor e também a autonomia do aluno”, conta Cisco.
A partir daí a procura só aumentou e com o tempo, o coordenador da Escola de Surfe Pública viu a necessidade de se pensar em um modelo multifuncional, que pudesse atender outros tipos de deficiência. Em 2014, surgiu uma prancha que se adaptava a várias necessidades e podia, por exemplo, atender cadeirantes ou pessoas com paralisia cerebral.
A prancha, com cores fortes que ajudam quem tem algum grau leve de deficiência visual, côncava, entre outras coisas, conta com velcro para adaptar várias peças, frisos laterais e guizos para orientar as pessoas. “São infinitas variantes que nos permitem adequar o equipamento a qualquer corpo”, explica o desenvolvedor.
Sem nenhum equipamento similar no mundo, o protótipo feito em Santos acabou se tornando referência. “Trabalhamos em cima de relatórios por conta do impacto da prática na melhoria da qualidade de vida dos alunos e estamos sempre aprimorando o desenvolvimento das pranchas no nosso laboratório”, afirma o coordenador.
Atualmente são mais de 80 pranchas já foram feitas e estão por todo o Brasil, além de países como Portugal, Espanha, Estados Unidos e Peru.
“Desde o início, a ideia já era de fazê-las e doar. Esse projeto chama-se ‘Sonhando sobre as Ondas’, onde o desenvolvimento é gratuito, distribuímos as pranchas, ensinamos e eles vão embora. Com detalhe que ela nunca é vendida, sempre doamos”, reforça ele.
Escola vira referência
Com a popularização do surfe adaptado, Cisco começou a correr atrás de outro projeto e, em 2020, foi inaugurada, no Posto 3, a ‘Escola Radical de Surf Adaptado’, que hoje tem mais de 170 alunos e também se tornou a primeira do mundo a atender a tais especificidades.
“Essa prática é muito importante e acompanhamos o desenvolvimento e melhoria dos alunos. Isso impacta na redução dos gastos públicos com terapias e comprova a qualidade que o nosso oceano traz para a saúde das pessoas”, avalia o coordenador.