Alunos da rede municipal de ensino de Santos tiveram uma “aula” sobre como é a vida das pessoas em países que convivem com guerras. Apesar do clima tenso nestes locais, muitos tentam buscar conviver com a normalidade. Um bate papo foi promovido com o jornalista Yan Boechat, que trabalhou na Rede Bandeirantes, onde ele falou com alunos das unidades municipais de ensino (UMEs) Avelino da Paz Vieira e Vinte e Oito de Fevereiro.
Na conversa. Yan explicou aos estudantes que, por mais estranho que nos pareça, as pessoas acabam se acostumando com a situação. De acordo com o repórter, eles continuam indo à escola, à praia, fazendo suas atividades cotidianas. É como um médico que, com o passar do tempo, se habitua a ver gente morta.
“A guerra é muito localizada. Se Santos estivesse numa, nós estaríamos aqui normalmente, enquanto a batalha acontece na Zona Noroeste, por exemplo”, explica o profissional.
“Todo conflito é vendido como uma luta do bem contra o mal. Mas percebi que nem o bom é tão bom, nem o mau é tão mau. O que aprendi, nesses anos, é compreender o diferente: respeitar as diferenças”.
Boechat esteve nesta quinta-feira (28) na Prefeitura de Santos, onde fez uma palestra. A iniciativa fez parte do projeto Memórias em Rede, idealizado pelo Instituto Devir Educom, que atua na interface entre a comunicação, a educação e a cultura nas escolas municipais.
Mas apesar de ter trabalhado em meio a combates violentos como os da Síria, Iraque, Afeganistão e Ucrânia, o jornalista diz não ter medo da morte. “Minhas viagens são bem planejadas, obedeço protocolos, tenho autorizações. Meu objetivo é voltar para contar histórias”.
Ele afirma que, desde pequeno, sempre sonhou em trabalhar em países às voltas com confrontos. “O jornalismo te permite viver mundos que não são o seu”. Ainda este ano, o repórter pretende voltar à Ucrânia.
Curiosamente, Boechat relatou que nunca sofreu qualquer tipo de agressão nesses locais. Somente no Brasil. “Foi durante a cobertura das manifestações de rua de 2013, quando fui espancado por policiais militares. Os colegas da imprensa me acudiram”.
O jornalista afirma que suas fotos não têm qualquer mensagem oculta ou intenções subjetivas. “O que pretendo é somente retratar a realidade”, explica ele, que já venceu o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em duas ocasiões: em 2012, com a reportagem ‘Uma Favela no Maior Porto da América Latina’ — que aborda a vida na comunidade Sítio Conceiçãozinha, situada no Porto de Santos —, e em 2020, com um ensaio fotográfico sobre a pandemia do novo coronavírus em Manaus.
Viés social
“Esse encontro é uma oportunidade de os estudantes vivenciarem uma área da comunicação que tem o viés social. Serve para empoderá-los para perceber que, com estudo e foco, qualquer escolha profissional é possível”, comentou a secretária municipal de Educação, Cristina Barletta.
Os alunos, por sinal, aproveitaram o evento. O convidado recebeu várias perguntas sobre sua atuação nas áreas de conflito. “Gostei muito. Conseguimos entender como é a realidade das pessoas que vivem nesses países. São informações que nem sempre temos acesso quando assistimos uma reportagem na TV”, disse o estudante Luis Augusto Rodrigues, do 8º ano da UME Avelino da Paz Vieira.
“Trabalhamos muitas linguagens multimídia e uma delas é a fotografia. Trouxemos o Yan para reafirmar a importância social do jornalismo documental”, explicou a co-fundadora do Instituto Devir Educom, a jornalista e educomunicadora Andressa Luzirão.
Criado em junho de 2018, sob o pilar da Educomunicação, o instituto atua em ações na educação formal e não formal, envolvendo crianças, jovens e adultos. Tem como objetivo contribuir com a construção de ecossistemas comunicativos mais horizontais no ambiente escolar.