O corpo de Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morto por uma bala perdida durante confronto no Morro do São Bento, em Santos, litoral de São Paulo, foi cepultado nesta quinta-feira (7), no Cemitério Municipal da Areia Branca, e terminou em discussão entre um grupo de pessoas, Polícia Militar, e o ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva.
O menino foi atingido durante confronto entre criminosos e a Polícia Militar, que fazia patrulhamento na região. Dois adolescentes, de 17 e 15 anos, suspeitos, também foram baleados, e o mais velho acabou não resistindo, vindo à óbito.
Segundo testemunhas, a tensão e confusão teria iniciado após os agentes terem abordado um motociclista do lado de fora do cemitério. Cláudio, inclusive, relatou à imprensa que “mandar viaturas pra porta do velório, impedir cortejo, atrapalhar cortejo, ir pra dentro do cemitério é uma falta de respeito”.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver uma parte da discussão, em que é discutido sobre o uso do armamento dos agentes. Ao lado, o ouvidor aparece discutindo com outro soldado.
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Operação
A Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo, realizou na manhã desta quarta-feira (6), uma coletiva de imprensa, onde o Coronel Massera, chefe da comunição social da Polícia Militar, informou que os agentes envolvidos foram afastados, e que os disparos que causaram as mortes podem ser da corporação. Ele também confirmou que haverá reforço de equipes na região a fim de prender os criminosos que conseguiram fugir.
O coronel enfatizou que a ação foi provocada pelos suspeitos, que iniciaram os disparos de armas de fogo contra a equipe, composta por sete policiais, que revidaram e se defenderam, gerando o confronto que resultou nas mortes.
Considerando a dinâmica dos fatos, o coronel afirmou: “Provavelmente, o disparo que atingiu o menino partiu de uma arma de um policial militar. O projétil ficou alojado, e nós temos agora, condições de fazer o confronto balístico e com o resultado da perícia, nós podemos ter essa conclusão.”
Os policiais militares não estão sendo vistos como culpados, mas foram afastados de suas atividades, por meio do Programa de Acompanhamento e Apoio ao Policial Militar, pois estão abalados com o ocorrido. Posteriormente será avaliado o afastamento mais prolongado destes agentes, se houver necessidade.
A corporação tem como foco agora, prender os criminosos que estavam no confronto, e haverá um reforço do efetivo das forças de Segurança Pública na região.
“A partir do resultado dessa ocorrência, o policiamento será ainda mais reforçado. Estamos enviando a tropa de Choque. A nossa preocupação também é identificar e localizar esses bandidos. Estamos com reforço do policiamento, atuando juntamente com o serviço de inteligência da Baixada e do Choque, monitorando essas pessoas para que consigamos prendê-los. Essas prisões vão ocorrer, é questão de tempo”, enfatizou.
Os envolvidos seriam moradores também de outros locais, além do Morro do São Bento, onde o confronto aconteceu. “Nós não sairemos de lá enquanto eles não forem presos, enquanto eles não forem pelo menos identificados e responsabilizados. […] Enquanto for necessário nós estaremos com esse policiamento reforçado, com uma operação específica, para dar essa resposta e devolver a segurança e tranquilidade dessas pessoas”, disse o coronel, se referindo aos moradores do local.
Menor de idade morto
Ainda durante a coletiva, o coronel informou que o menor infrator, de 17 anos, que foi atingido e morreu durante o confronto, ostentava nas redes sociais armas de fogo, efetuando disparos, e fazia alusões à facções criminosas.
Adolescente ferido
O adolescente, de 15 anos, que também é suspeito e estava envolvido no confronto com a PM foi socorrido na data dos fatos, e segundo a corporação, fraturou o fêmur. Ele já passou por cirurgia, e está internado sem risco de morte.
O caso
De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública), os agentes faziam patrulhamento em uma área de tráfico de drogas na região quando foram atacados por um grupo de aproximadamente 10 criminosos. Eles teriam tentado fugir ao notarem a presença da polícia, e então, o confronto teria iniciado entre as ruas São Sérgio e São Fernando. Os suspeitos atiraram contra a equipe, que revidou.
Uma outra equipe da PM chegou para auxiliar no confronto, surpreendendo cerca de 8 criminosos, que continuaram atirando, momento em que os dois adolescentes foram baleados.
O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado para o local da ocorrência, onde foram informados que a criança baleada já tinha sido levada para a Santa Casa de Santos.
Os dois adolescentes também foram atendidos, sendo o mais velho levado para a UPA (Unidade de Pronto Antendimento) Zona Noroeste, onde não resistiu aos ferimentos e morreu, e o outro levado para a Santa Casa de Santos, onde permaneceu sob escolta.
De acordo com a pasta, a Delegacia Seccional de Santos instaurou um inquérito para apurar os fatos e determinou a realização de perícia nas armas apreendidas e no local do confronto para esclarecer a origem do disparo que atingiu a criança.
A mãe da vítima relata que o filho estava brincando com outras crianças em frente à casa de uma prima no momento em que foi atingido na barriga.
Pai de Ryan morto durante Operação Verão
Beatriz da Silva Rosa, de 29 anos, mãe do menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, ficou viúva durante a Operação Verão, deflagrada na Baixada Santista no início de 2024. Seu marido, Leonel Andrade Santos, que na época tinha 36 anos, foi morto por agentes do 4º Batalhão de Choque.
O pai de Ryan, no dia 9 de fevereiro, estava com um amigo, Jeferson Miranda, de 37 anos, na Rua São Mateus, quando foram baleados e mortos. Segundo registros da SSP (Secretaria de Segurança Pública), um estava na posse de uma mochila e outro de uma sacola, e teriam apontado uma arma de fogo contra os agentes, que revidaram.
A família, porém, nega a versão apresentada pela PM, visto que Leonel estava debilitado e andava de muletas. Ele foi fotografado horas antes do ocorrido, sentado no local, com os objetos que o auxiliavam a andar, ao seu lado.
A mulher, que agora está também sem o filho, informou na época, que era o marido quem ficava com as crianças, enquanto ela trabalhava. O homem estava afastado, e recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Ele aguardava por uma cirurgia de retirada do projétil alojado no joelho há 15 anos, devido a um confronto com a polícia na época em que o mesmo era envolvido com o tráfico de drogas. Após 10 anos preso, Leonel teria deixado o crime, explicou a esposa.