Quadrilha do Ozempic: assaltos a farmácias por canetas emagrecedoras crescem no país

Produtos com venda controlada viram alvo de crime; automedicação pode causar pancreatite, náuseas, paralisia gástrica e até problemas ósseos

Foto: Shutterstock

Nos últimos meses, uma nova “febre” no mundo das celebridades e entre quem busca emagrecimento rápido virou caso de polícia. As chamadas canetas emagrecedoras, como o Ozempic e similares, se tornaram alvo de assaltos em farmácias e redes de venda ilegal pela internet. O medicamento, que originalmente foi desenvolvido para tratar diabetes tipo 2 e obesidade, passou a ser cobiçado por pessoas que desejam perder peso sem esforço — muitas vezes, sem qualquer orientação médica.

Câmeras de segurança de farmácias flagraram criminosos invadindo os estabelecimentos durante a madrugada, levando exclusivamente estoques das canetas injetáveis. A alta procura e o constante destaque na mídia alimentam um mercado paralelo perigoso, que não só financia o crime como também expõe os usuários a sérios riscos de saúde.

Perigo silencioso

O uso indiscriminado desses medicamentos, que pertencem à classe dos agonistas de GLP-1, pode gerar uma série de efeitos colaterais. A pancreatite — inflamação grave no pâncreas — é uma das complicações mais graves. Mas há outros efeitos já observados em usuários que se automedicam, como enjoo persistente, vômito, dor estomacal, refluxo, além da gastroparesia, uma paralisia do estômago que atrasa a digestão.

“Esses remédios não são para quem quer perder cinco quilos para ir à praia”, alerta o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade. “Eles tratam uma doença crônica, a obesidade. Quando usados fora desse contexto e sem acompanhamento, os riscos se tornam imensos.”

Estudos recentes também apontam aumento nos casos de problemas osteoarticulares, como tendinites e artrites, entre pacientes que fazem uso prolongado do medicamento. E o mais preocupante: em muitos casos, as canetas são adquiridas sem prescrição, tanto em farmácias quanto pela internet, em flagrante violação das regras da Anvisa.

Venda descontrolada

Mesmo com a exigência de receita médica para a venda — o medicamento é de tarja vermelha —, dados revelam que o comércio irregular é expressivo. Só em 2024, o Ozempic vendeu mais de 3 milhões de unidades no Brasil, movimentando mais de R$ 3 bilhões. Em seis anos, as vendas cresceram 663%, um recorde que chama atenção de especialistas e autoridades sanitárias.

A pesquisadora da USP e especialista em direito médico, Tamires Capello, aponta que a venda sem prescrição configura crime e reforça que tanto farmácias quanto plataformas de venda online devem ser fiscalizadas com mais rigor. “É um problema de saúde pública. Quando o acesso a medicamentos controlados é facilitado, a chance de automedicação e efeitos adversos aumenta muito.”

Alerta aos consumidores

Para os especialistas, o recado é claro: emagrecimento saudável exige orientação, tempo e acompanhamento profissional. O uso de medicamentos como o Ozempic sem prescrição pode ser perigoso e até fatal. Além disso, ao alimentar o mercado ilegal, o consumidor também colabora, ainda que indiretamente, com práticas criminosas como furtos e roubos a farmácias.

A recomendação é sempre procurar orientação médica antes de qualquer tratamento. O que parece um “atalho” estético pode, na verdade, abrir caminho para sérias consequências à saúde.

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