REDAÇÃO
Sete em cada dez (74,1%) indústrias paulistas dizem não ter a intenção de contratar novos empregados no segundo semestre deste ano, de acordo com um levantamento exclusivo feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Das 25,9% das empresas que afirmam que pretendem fazer contratações na segunda metade do ano, a média de contratação esperada equivale a 10,3% do quadro total de funcionários.
O setor atribui a maior parte do pessimismo ao patamar elevado da Selic (os juros básicos), hoje em 13,75% ao ano, que inibe investimentos, dificulta a elevação da produção e posterga contratações. Varejo e serviços também se somam à indústria nas reclamações sobre os juros.
Apesar de uma melhora no cenário econômico nos últimos meses -na esteira de avanços recentes da reforma tributária e na discussão do novo arcabouço fiscal- e cujo reflexo se deu, além da queda das expectativas de inflação e valorização do real ante o dólar, a indústria vê 2023 com preocupação.
Após uma deflação de 0,08% em junho, conforme a Folha mostrou, o mercado já trabalha com inflação dentro da meta em 2023.
Quando questionadas sobre as suas expectativas de vendas no mercado nacional, 29,9% dizem que esperam um aumento de normal a acentuado na comercialização na segunda metade deste ano, 37,9% contam com uma queda nas vendas e 30,8% não esperam mudanças.
É a pior expectativa de aumento de vendas no mercado interno desde 2018.
Foram ouvidos 452 representantes da indústria de transformação no estado de São Paulo, tanto micro (5,1%), pequenas (61,2%), médias (27,8%) e grandes empresas (5,9,%). A pesquisa foi feita entre os dias 19 e 30 de junho.
O economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, ressalta que o mercado está, de fato, mais otimista com o governo e a indústria sente o mesmo. A pesquisa reflete, em partes, um momento em que os desafios fiscais, sobre a reforma tributária, ainda estavam mais presentes.
“Essa sensibilidade quanto ao ano não ser tão virtuoso é pelos juros. Os juros afetam mais a indústria, que não tem crédito subsidiado e paga a maior alíquota de impostos de toda a economia. O agronegócio tem o Plano Safra, a indústria tem dificuldade para conseguir crédito. Embora a gente possa avaliar que houve uma melhora das expectativas que deve ser traduzida na próxima pesquisa do fim do ano.”
A promessa de um plano para a indústria, nos moldes do Plano Safra, é algo que vem sendo mencionado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo Rocha, o setor vem conversando com o governo para que medidas para reverter a desindustrialização, que consigam ir além do programa de redução de preço para os carros populares, mas que sejam uma das marcas do terceiro mandato do governo do presidente Lula (PT).
“Podemos fazer uma transição para segmentos que formem uma nova onda de progresso a gente vai ser bem-sucedido. Na indústria automotiva, a gente pode colocar o Brasil com a descarbonização em uma rota. O mercado brasileiro pode ser uma forma de dar escala a esse mercado, construir uma ponte para competir internacionalmente”, diz Rocha.
Em entrevista dada nesta semana, o ministro Haddad também falou que o governo pretende que a transição energética seja a marca do atual mandato do petista.
Ao olharem para o segundo semestre, 42,1% dos industriais não têm expectativas de mudanças, 31,5% são otimistas e 20% estão pessimistas.
No início do mês, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) do país teve alta de 1,9% no primeiro trimestre em comparação com o quarto trimestre de 2022. O crescimento superou as expectativas dos analistas, e contou com um impulso da agropecuária.
Ao longo do ano, o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, tem criticado os juros altos em diversas oportunidades. Em março, ele classificou as taxas de juros brasileiras como “pornográficas” em um discurso no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Em junho, afirmou que o juro elevado “é um veneno para a atual realidade econômica”.
Em sua mais recente live semanal, o presidente Lula (PT) voltou a dizer que a taxa de juros precisa cair e chamou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de “tinhoso”.
Pelo levantamento, no início de 2023, a expectativa dos empresários era de obter resultados melhores nas vendas ao mercado interno, na empregabilidade e na produção -ao fim do primeiro semestre, no entanto, a realidade é de não ver mudanças significativas de expectativas.
Em relação às vendas, 37,9% se diziam otimistas, 22,9% pensavam o mesmo sobre o emprego e 35,1% falavam isso sobre a produção. Em junho, 18,8% diziam que as vendas correram melhor do que o esperado, 6,5% avaliaram assim o emprego em suas empresas e 14,6% disseram isso sobre a produção.
Além disso, quase metade (49,2%) dos entrevistados respondeu que o primeiro semestre deste ano foi pior do que o mesmo período do ano anterior -esse resultado também tem base na indicação de queda nas vendas ao mercado interno e no volume de produção.
Olhando para o futuro, para 47,1% das indústrias paulistas, o fechamento das vendas em 2023 deve ser pior do que no ano de 2022.
Os industriais paulistas também estão mais pessimistas com as exportações: 31,7% aguardam uma queda que pode ser até acentuada, enquanto 43,1% não esperam mudanças e 25,2% contam com um aumento.
O volume de produção no segundo semestre ante o mesmo período de 2022 deve ter queda ou queda acentuada para 38,1%, ao mesmo tempo, 31,1% contam com um aumento ou aumento acentuado.
DOUGLAS GAVRAS