Guarani e o perigo de contaminação da incoerência tóxica nas arquibancadas

Com a instituição das redes sociais, todo mundo ganhou voz. E responsabilidades. Quem tem o mínimo de bom senso toma cuidado com suas análises para não ser vitimado pelo torpedo da incoerência. Pensar algo hoje pode destruir sua própria análise amanhã. O futebol é o campo fértil para tal quadro. Achamos natural o torcedor chamar alguém de cabeça de bagre hoje e intitulá-lo como craque amanhã. Não deveria ser assim.

Veja o caso do Guarani. Nos dois primeiros jogos, o lateral-esquerdo Mayk e o atacante Reinaldo foram vítimas de todo o tipo de insulto. Pareciam que deveriam ser descartados. Contratos rescindidos. Eis que no último sábado Reinaldo anotou dois gols e Mayk fez um belo gol de falta. Viraram deuses. Elogios de tudo quanto é lado.

Esta incoerência tóxica não é privilégio dos torcedores. A imprensa tem sua parcela de culpa. Fazemos análises apenas dos 90 minutos. Não temos curiosidade em conhecer os processos e o desenvolvimento dos treinamentos.

Ninguém parou para pensar sobre o papel de Umberto Louzer. O torcedor acredita que ele seria louco de escalar alguém sem capacidade de crescimento durante a fase inicial do Paulistão? Não paramos para refletir sobre o fato de Louzer ser a pessoa mais gabaritada para tomar suas decisões. Ele acompanha não somente os jogos, como os treinamentos e a postura dos atletas no vestiário. Vou além: é o treinador, não a imprensa ou a torcida que sabem qual o limite de cada atleta. Os treinadores estão amparados pela ciência. Não há termo de comparação.

Então devemos parar de criticar os jogadores? Nada disso. Meu alerta é para que o torcedor deixe sua posição de cliente e volte a essência da arquibancada. O torcedor de arquibancada, o típico raiz, ele critica, corneta e desfere vaia nos 90 minutos. Após o apito final, seja qual for o resultado, a sua esperança é renovada para o jogo seguinte. Ele espera que o atleta com desempenho decepcionante hoje dê a volta por cima amanhã. O cliente não. Ele repudia e quer o serviço pronto e acabado. De preferência com a troca de quem lhe serve. Adota tal posição com distanciamento, frieza e indiferença. O torcedor não é cliente. Ele é, antes de tudo, apaixonado por seu clube. E quer o melhor sempre. Mesmo que quem veste a camisa nos 90 minutos não lhe agrade. Ele, o torcedor, crê que o amanhã será melhor. Esta esperança precisa ser resgatada. Mais paixão e amor. E uma diminuição na dose de ódio. Será bom para todos.

(Elias Aredes Junior-com foto de Raphael Silvestre)

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