A recente onda de intoxicações por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas acendeu um alerta em autoridades de saúde e entidades do setor em São Paulo. Em menos de 25 dias, duas pessoas morreram e outras sete foram internadas após consumir produtos contaminados em cidades como São Paulo, Limeira e Bragança Paulista. Os casos, registrados entre os dias 1º e 18 de setembro, reforçam a gravidade do problema e os riscos à saúde da população.
O que é o metanol e por que ele é perigoso
O metanol (CH₃OH) é um álcool simples, incolor, inflamável e de difícil identificação, com cheiro parecido ao do etanol – o álcool presente nas bebidas comuns. Conhecido como “álcool da madeira”, já que antigamente era obtido por destilação de toras, hoje é produzido industrialmente a partir do gás natural.
Apesar de estar presente naturalmente em pequenas quantidades em frutas, vegetais e até no corpo humano, em concentrações elevadas é altamente tóxico. A substância tem diversas aplicações legítimas na indústria, sendo usada na produção de formaldeído, ácido acético, solventes, plásticos e biodiesel. No entanto, nunca deve ser utilizada no consumo humano.
A ingestão, inalação ou até o contato prolongado com o metanol pode causar náuseas, tontura, confusão mental, cegueira e morte. Pequenas doses já são suficientes para provocar intoxicações graves. Além disso, o produto é inflamável, o que aumenta o risco de incêndios e explosões quando manuseado de forma inadequada.
Sintomas e riscos: de náuseas à cegueira irreversível
De acordo com a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO), o consumo de bebidas contaminadas pode levar a uma condição grave chamada neuropatia óptica tóxica, responsável por causar perda irreversível da visão.
Entre 12 e 24 horas após a ingestão, os sintomas costumam aparecer e incluem dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e visão turva súbita. O tratamento precisa ser feito com urgência e inclui o uso de antídotos (como etanol venoso), correção da acidez sanguínea com bicarbonato, administração de vitaminas (ácido fólico/folínico) e, nos casos mais graves, hemodiálise.
Entidades emitem alerta
A gravidade dos casos levou a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) a divulgar uma nota manifestando “profunda preocupação e solidariedade às vítimas e familiares”. A entidade reforçou seu compromisso no combate ao mercado ilegal de bebidas e destacou que, somente em 2025, mais de 160 mil produtos falsificados foram apreendidos no Brasil.
A Abrabe alertou ainda que a adulteração não coloca em risco apenas a saúde do consumidor, mas também desestabiliza o mercado e prejudica o comércio legal.
Já a ABNO enfatizou a necessidade de diagnóstico rápido e tratamento imediato para evitar complicações irreversíveis, principalmente a cegueira.
Autoridades intensificam fiscalização
A onda de intoxicações levou a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP) a publicarem uma nota técnica com recomendações urgentes aos estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas. O documento orienta sobre a importância da procedência dos produtos e alerta para a responsabilidade dos comerciantes na prevenção de novos casos.
Como se proteger
Especialistas orientam que os consumidores verifiquem sempre a procedência das bebidas alcoólicas, desconfiem de preços muito abaixo do mercado e evitem comprar produtos de origem duvidosa ou sem rótulo.
Em caso de suspeita de intoxicação, a recomendação é procurar atendimento médico imediatamente e, se possível, levar a embalagem da bebida consumida para análise.



