Morreu nesta terça-feira (13) a adolescente que estava internada em Campinas com suspeita de febre maculosa. Ela compareceu à mesma festa da qual participaram três pessoas que perderam a vida em razão da enfermidade.
Mais cedo, a Secretaria de Estado da Saúde confirmou que a doença provocou a morte do piloto e empresário Douglas Pereira Costa, 42, e de uma mulher de 28 anos.
Assim como a dentista Mariana Gioardano, 36, eles estiveram no dia 27 do mês passado na Feijoada do Rosa, na Fazenda Santa Margarida, distrito de Joaquim Egídio, em Campinas.
A adolescente de 16 anos foi hospitalizada na última sexta-feira (9) em Campinas. Ela morreu nesta terça (13), segundo a prefeitura.
O caso dela inicialmente fora notificado à Vigilância em Saúde como suspeito para febre maculosa, dengue, leptospirose ou meningite. Porém só nesta terça, depois da repercussão dos demais casos, sua família mencionou a presença da jovem no evento. A causa da morte deve ser apontada por exame do Instituto Adolfo Lutz.
A fazenda é considerada o local provável de infecção, de acordo com a prefeitura, que classifica a o quadro como um surto da doença.
O restaurante Seo Rosa, responsável pelo evento na fazenda, afirmou que soube da “fatalidade”, mas que “não está confirmado que pegaram o carrapato no local”.
Na noite desta terça, a organização da feijoada declarou, em nota publicada numa rede social, “seu profundo pesar, solidarizando-se com as famílias e amigos enlutados”.
De acordo com o comunicado, a Feijoada do Rosa do último mês foi a 22ª edição, sendo que nos últimos dez anos ocorreu na Fazenda Santa Margarida. A festa mais recente reuniu cerca de 3.500 pessoas, estimou a organização.
“Até o momento, não se pode descartar que as contaminações tenham eventualmente ocorrido durante essa frequência na Fazenda Santa Margarida, mesmo porque a Vigilância Sanitária local veio à público reforçar que a cidade de Campinas ganha especial expressão como foco da referida doença.”
Tanto Douglas e Mariana, que eram namorados, quanto a mulher de 28 anos, moradora de Hortolândia (cidade vizinha a Campinas), morreram na última quinta (8).
Na segunda-feira (12), análise do Adolfo Lutz confirmou que a febre maculosa estava por trás da morte de Mariana.
Após participarem do evento, Mariana e Douglas viajaram para outra cidade. O casal começou a apresentar sintomas no dia 3 deste mês, um sábado.
No dia seguinte, Mariana foi para o Hospital Vitória, na capital paulista, onde morava. Douglas residia em Jundiaí (a 58 km de São Paulo).
A Prefeitura de Campinas disse, em nota, que o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) desencadeou ações de prevenção, informação e mobilização contra a febre maculosa na Fazenda Santa Margarida. O distrito de Joaquim Egídio é mapeado como área de risco para a doença.
“A fazenda só poderá fazer novos eventos quando apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação”, afirmou a gestão municipal.
Os responsáveis pela fazenda foram notificados ainda acerca da importância da sinalização quanto aos riscos da enfermidade.
Essa informação, acrescentou a prefeitura, é imprescindível para que as pessoas adotem comportamentos seguros ao frequentar esses espaços e também para que, depois de visitá-los, possam facilitar o diagnóstico.
Nos próximos dias, técnicos do Devisa devem efetuar uma pesquisa para verificar como está a infestação de carrapatos no espaço.
A prefeitura disse ainda que, na semana passada, reforçou as ações de comunicação, informação e mobilização contra a febre maculosa nos parques da cidade.
Outra medida adotada foi alertar as redes de vigilância de saúde nacional e estadual, uma vez que muitas pessoas de outras cidades compareceram ao evento na fazenda.
A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por carrapaos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, presente principalmente no carrapato-estrela.
Para que haja a transmissão, o carrapato precisa ficar fixado à pele por pelo menos quatro horas. Não há transmissão de pessoa para pessoa.
Os principais sintomas são febre, dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos, diarreia, dor abdominal e muscular, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas e paralisia dos membros.
Segundo a Secretaria da Saúde do estado, quem mora ou se desloca para áreas de transmissão deve estar atento ao menor sinal desses sintomas e procurar um serviço médico informando que esteve nessas regiões.
Andrea von Zuben, diretora do Devida, ressaltou que febre alta é o principal sintoma da doença. “Por isso é importante que o médico sempre pergunte ou que o paciente relate que esteve em área de vegetação com presença de carrapato ou capivara. Com esse histórico, o tratamento deve ser iniciado imediatamente.”
A enfermidade tem cura, porém o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibiótico adequado.
Ao todo, de 12 casos registrados em São Paulo desde janeiro –todos no interior–, 6 resultaram em mortes. Campinas e Piracicaba respondem pelo maior número de casos, de acordo com a Secretaria da Saúde.
No interior do estado, ainda segundo a pasta, a doença passou a ser detectada a partir da década de 1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba e Assis (a 160 km e a 434 km, respectivamente, da capital paulista), e nas áreas mais periféricas da região metropolitana de São Paulo e no litoral, mas em uma versão mais branda.
Historicamente, há poucos registros da doença na capital e na região metropolitana, por causa da urbanização dessas áreas.
No ano passado inteiro, houve 53 casos, dos quais 37 levaram à morte dos pacientes. Em 2021, foram confirmados 42 óbitos em 76 casos.
FRANCISCO LIMA NETO E FÁBIO PESCARINI / Folhapress