O som que anuncia a próxima parada do ônibus pode parecer simples para a maioria dos passageiros. Mas, para quem tem deficiência visual, esse detalhe representa liberdade, segurança e inclusão. Foi pensando nisso que o motorista Marcos Fernando Gorreri, de 55 anos, decidiu agir por conta própria e ativou o sistema de avisos sonoros em um dos ônibus da linha 135, em Campinas.
A atitude de Marcos nasceu da observação atenta e da empatia com os passageiros. Há uma década conduzindo veículos da linha que atende o Jardim Filadélfia, ele notou que uma mãe costumava embarcar com a filha com deficiência visual para reconhecer os pontos e curvas do trajeto. Ao perceber que um dos ônibus tinha instalado o Anunciador de Próxima Parada (APP), mas que o sistema estava desligado, ele decidiu buscar informações para colocá-lo em funcionamento.
Sem receber qualquer ordem superior, Marcos iniciou uma jornada de dois meses em busca de apoio técnico, contato com os desenvolvedores e configuração do sistema, que integra as paradas com o GPS do ônibus e os alto-falantes internos. Com o apoio da Cooperatas, cooperativa responsável pela linha, o primeiro ônibus com o sistema ativo passou a circular. Um segundo veículo já foi adaptado e também conta com o recurso.
“A satisfação dos passageiros é o que me move. Saber que uma atitude simples pode melhorar a vida de alguém é recompensador. Fico feliz em contribuir para uma cidade mais acessível”, afirma Marcos, que herdou o amor pela profissão do pai, também motorista de ônibus.
Entre os beneficiados está Lucas Carvalho Ré, de 35 anos, atleta paralímpico e usuário diário da linha 135. Com baixa visão, Lucas utiliza bengala e depende do transporte público para treinar na Associação Paralímpica de Campinas (APC). Ele se emociona ao relatar como a iniciativa de Marcos impactou sua rotina.
“O sistema me oferece autonomia. Posso reconhecer quando o ônibus está se aproximando da parada, sem depender de outras pessoas. Isso garante meu direito de ir e vir com mais igualdade”, destaca. “Quando viajo em linhas sem o sistema, preciso me guiar pelas curvas e lombadas, o que exige muito mais atenção e energia.”
Lucas, que já conquistou o primeiro lugar nas provas de 100 e 400 metros nado livre nos Jogos Paralímpicos do Estado de São Paulo em 2024 (Paresp), associa suas conquistas à inclusão social promovida pelo transporte público acessível. “A inclusão começa com atitudes como a do Marcos. Ela não está só nas leis, mas na prática do dia a dia. É isso que muda a vida das pessoas.”