Uma armadilha fotográfica instalada pela equipe técnica da ARIE Mata de Santa Genebra, em Campinas (SP), registrou um momento raro na fauna local: uma onça-parda fêmea acompanhada por três filhotes. As imagens foram capturadas no fim de dezembro de 2024 e representam o segundo registro de uma ninhada com três filhotes na reserva.
Para os especialistas da Fundação José Pedro de Oliveira (FJPO), responsável pela gestão da área, a presença de um grande predador como a onça-parda confirma o equilíbrio do ecossistema. Segundo o biólogo Thomas Barrella, a existência desses felinos indica que a mata oferece os recursos necessários para a manutenção da espécie.
“Grandes predadores regulam a dinâmica da floresta ao controlar populações de outras espécies. Isso evita o crescimento descontrolado de certos animais e mantém o equilíbrio do ecossistema”, explica Barrella.
Monitoramento contínuo
Desde 2012, as câmeras da Mata de Santa Genebra registram frequentemente a presença de onças-pardas, tanto machos quanto fêmeas. Atualmente, duas fêmeas adultas residem na área, o que chamou a atenção dos biólogos, já que esses felinos costumam ser territorialistas e não compartilham espaço facilmente.
De acordo com os pesquisadores, a convivência entre as duas fêmeas pode estar ligada a um ritual de sucessão natural. A fêmea mais velha teria permitido que uma de suas filhas permanecesse no território, indicando uma possível passagem de domínio.
As onças-pardas costumam ter de um a quatro filhotes por ninhada, que permanecem sob os cuidados da mãe por cerca de um ano antes de partirem em busca de um novo território. Os machos, por sua vez, não participam da criação dos filhotes e transitam entre diferentes áreas para reprodução.
Características e ameaças
As onças-pardas (Puma concolor) são felinos solitários e de hábitos predominantemente noturnos. Podem atingir 1,5 metro de comprimento (sem a cauda) e pesar até 70 kg. Embora tenham ampla distribuição – ocorrendo desde a Argentina até o Canadá –, no estado de São Paulo, são classificadas como “vulneráveis à ameaça” devido à perda de habitat, caça e atropelamentos.
Apesar de seu porte imponente, não são naturalmente agressivas e evitam o contato com humanos. Sua alimentação é baseada em animais de pequeno e médio porte, como capivaras, tatus e veados.
Projeto de corredor ecológico
Para garantir a preservação da espécie e permitir maior circulação dos felinos, a Fundação José Pedro de Oliveira está implementando um corredor ecológico, conectando a Mata de Santa Genebra à Fazenda Rio das Pedras, em Barão Geraldo, até chegar a fragmentos maiores, como a região do Ribeirão Cachoeira, na Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas.
Segundo o presidente da FJPO, Rogério Menezes, a iniciativa permitirá que as onças circulem entre diferentes áreas protegidas com mais segurança.
“O plantio de mudas nativas ajudará a restabelecer esse corredor, permitindo que os animais transitem entre os fragmentos vegetais e reduzindo os riscos para a espécie”, afirma Menezes.
Com a presença confirmada das onças-pardas e iniciativas voltadas à preservação, a Mata de Santa Genebra segue como um dos mais importantes refúgios da fauna silvestre na região de Campinas.
