Por que o trânsito está mais violento? Estresse e desrespeito alimentam conflitos nas ruas

Foto: Agência Brasil

O que deveria ser um espaço de convivência e fluidez tem se transformado, cada vez mais, em palco de agressões verbais, ameaças e violência física. Em meio à pressa, ao estresse e à falta de respeito mútuo, o trânsito virou um reflexo da intolerância que se espalha pelas cidades. Em Campinas, só nos primeiro mês de 2025, foram registrados 129 casos de lesão corporal e 11 mortes em acidentes de trânsito. Os dados são da Secretaria de Segurança de São Paulo.

Estacionar em fila dupla, fechar cruzamentos, ocupar a ciclovia, furar a rotatória ou parar na frente de garagens. São atitudes aparentemente corriqueiras, mas que funcionam como estopim para discussões acaloradas entre motoristas, ciclistas e pedestres. Segundo especialistas em comportamento urbano, o estresse elevado e a impaciência têm contribuído para a escalada da violência nas ruas.

“Boa parte dos conflitos no trânsito parte de atitudes pequenas que se somam à intolerância e à dificuldade de diálogo”, afirma o psicólogo Maurício Andrade, especialista em comportamento em ambientes urbanos. “Quando a cidade deixa de ser espaço de convivência e vira território de disputa, o carro se torna uma extensão do ego. E isso é muito perigoso.”

A plataforma de idiomas Preply divulgou uma pesquisa em maio de 2024 sobre a comunicação no trânsito em diferentes estados brasileiros. Os dados revelam um cenário preocupante: sete em cada dez brasileiros já presenciaram alguma forma de agressão verbal no trânsito, e 40% disseram já ter sido vítimas diretas desse tipo de violência pelo menos uma vez.

A pesquisa também identificou quais atitudes mais geram conflitos entre condutores: ultrapassagens perigosas, uso de celular ao volante, desrespeito a pedestres, avanço de sinal e, principalmente, a forma como motoristas reagem a erros alheios. Xingamentos, buzinas insistentes e gestos obscenos aparecem no topo das reclamações.

Apesar do clima de hostilidade em muitas regiões, o levantamento também apontou os estados com motoristas e pedestres considerados mais gentis: Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Nessas localidades, os entrevistados relataram maior empatia e respeito às regras de convivência no trânsito.

O aumento da violência no trânsito não está ligado apenas às infrações, mas à forma como os indivíduos se relacionam com o espaço público. A pressa, o uso excessivo de tecnologia e o esgotamento emocional afetam a tolerância das pessoas — e isso pode custar caro. Para especialistas, campanhas educativas, investimento em mobilidade segura e ações de conscientização são fundamentais para frear essa onda de agressividade.

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS