Durante a edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a escritora Verônica Yamada participa da programação com o romance “Tempos Amarelos” (Editora SEDAS, 136 páginas). A obra discute os impactos da cultura de alta produtividade e os traumas emocionais herdados no contexto das famílias nipo-brasileiras.
Ambientado em um futuro distópico, o livro apresenta a história de Marina, uma mulher que adoece devido ao excesso de trabalho. Para manter a produtividade, ela ignora o próprio corpo e entra em colapso, estado chamado na narrativa de “battery-out”. Nesse ponto, ela passa a se conectar com Kaue, um homem que desperta de um coma após mais de uma década. Juntos, em um plano inconsciente, os dois confrontam experiências de abandono, cobranças familiares e questões raciais.
“A maioria das famílias amarelas investe muito em educação, mas são bastante frias. Isso causa uma sensação de abandono e negligência parental”, afirma Yamada, que também é médica oftalmologista. “Queria mostrar que ninguém quer entrar em burnout, mas que nos sentimos sempre pressionados a produzir”, diz a autora, que se inspirou em vivências pessoais para compor a história.
A narrativa se aproxima do conceito de healing fiction, gênero que tem ganhado espaço entre autores asiáticos e que propõe a cura emocional como eixo central das histórias. “Desta vez, me permiti escrever um final diferente, feliz. Acredito que isso mostra que eu também posso me curar, assim como meus personagens”, explica.

O Brasil é o segundo país com mais pessoas sofrendo de síndrome de burnout. O esgotamento provocado pelo excesso de trabalho já afeta 30% dos trabalhadores brasileiros, ficando atrás apenas do Japão, que apresenta um índice de 70%. Os dados são de 2024 e foram divulgados pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANMT) e pela International Stress Management Association (ISMA), respectivamente.
A autora destaca ainda que sua escrita busca articular temas difíceis com elementos simbólicos e sensoriais. No livro, por exemplo, a culpa da protagonista ganha forma de um cachorro da infância, e o corpo vira cenário principal: tanto pelas marcas da racialização quanto pelos sintomas físicos do adoecimento. “Nunca existe apenas escuridão, vazio e dor. Mesmo que você não enxergue na hora, existe luz no fim do túnel”, diz.
Verônica estará presente na mesa 9 da Praça Aberta, ao lado do coletivo Escritoras Asiáticas e Brasileiras, durante todos os dias da Flip. No sábado, 2 de agosto, realiza uma sessão de autógrafos na Casa Escreva, Garota!, na Travessa Gravatá, das 14h às 16h.






