A onda de calor dos últimos dias está afetando a vida dos feirantes na maior cidade da América Latina. De um lado, os trabalhadores têm dificuldades para suportar a temperatura debaixo das barracas. E do outro, alimentos perdem durabilidade com as altas temperaturas.
Antônio Marcos monta sua barraca de frutas desde 2001 na Bela Vista. “Você fica estressado, imagina você ficar das 5h às 14h debaixo dessa lona. E a mercadoria, sempre tem que trazer um pouco mais verde, para poder aguentar, senão o cliente leva e já estraga”, contou.
O feirante afirmou que não perde muitos alimentos por causa das altas temperaturas, mas a rotina se altera, o que resulta em menos faturamento:
“Diminuo a quantidade de alimentos que trago para não sobrar. E afeta financeiramente porque você está acostumado com as pessoas chegando mais tarde, daí elas vêm mais cedo, e vêm menos pessoas, porque acham que de manhã é mais caro”.
O comerciante relatou que o preço dos alimentos também subiu. Melancia e abacaxi foram algumas das frutas que estão mais caras. “Melancia eu pagava R$ 35, agora é R$ 60. Tenho que trazer uma menor para manter o preço”.
Dona Maria Rosa de Melo é alagoana e chegou em São Paulo em 1966. Aposentada, Maria Rosa continua trabalhando, desde os 13 anos de idade. A rotina da família, que trabalha às terças e sextas-feiras, sábado e domingo, em diferentes regiões da capital, começa durante a madrugada:
“Acordamos 2h30, saímos de casa até às 3h20, vamos para o mercado, fazemos as compras e chegar aqui até 5h10. Quando são 2h30 temos que sair. Chegamos em casa 16h. Aí graças a Deus, arrumamos o almoço”, contou.
O filho de dona Maria, José Carlos Gomes, relatou que o trabalho não é nada fácil: “aguentar de domingo a domingo, sol, chuva, não é para qualquer um”.
O que move a família é a diversão, o contato com as pessoas, o companheirismo com os demais feirantes e com os consumidores. Mas o calor dificulta:
“Batatas duram de um a dois dias. Essas acabaram de chegar, estão fresquinhas. Mas o calor cozinha, estraga, amadurece rápido. Diminui em até 30% a durabilidade dos alimentos. De um dia para o outro começa a amarelar. E perde uns 10% de mercadoria. Não tem jeito. Batata derrete, limão fica maduro, cebola começa a estragar”, relatou o feirante.
Consumidores também estão improvisando para conservar os alimentos por mais tempo. Imara Santana, assistente social, faz a feira toda semana. Bananas viram sorvete e melancias viram suco para durarem mais: “se você não tem como conservar, os alimentos perdem muito rápido”, contou.
A Companhia de Entrepostos e Armazéns de São Paulo (Ceagesp) esclareceu em nota que as altas temperaturas aceleram na “deterioração dos produtos”, já que os processos naturais se aceleram. Para conter esses efeitos, segundo a empresa, há a refrigeração dos alimentos.
“Em média, chegam diariamente ao Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) 10 mil toneladas (peso de 625 caminhões) de alimentos. Em 15/11, por exemplo, houve um descarte total de 242 toneladas (peso de 15 caminhões), significando perda de 2,5%”, afirmou a companhia.
O valor, segundo a Ceagesp, está dentro da “normalidade” em contexto latino-americano.