Em 5 pontos, entenda a CPI do MST na Câmara

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) | Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), leu nesta quarta-feira (26) o requerimento para a criação da CPI que busca investigar a atuação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

A iniciativa ocorre em meio às ações do movimento nas últimas semanas e à crescente pressão da bancada ruralista pela instalação da comissão. Parlamentares presentes no plenário da Câmara aplaudiram após a leitura de Lira.

Essa CPI tende a ser mais uma dor de cabeça para o governo Lula (PT), por atingir um aliado estratégico e também por obrigá-lo a mobilizar parte de uma base ainda reduzida e não formada no Congresso.

A seguir, perguntas e respostas sobre a CPI.

**1) De quem partiu a ideia da CPI, como ela será composta e qual seu objetivo?**

A CPI partiu de um requerimento do deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), com apoio de membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), mais conhecida como bancada ruralista.

A CPI terá 27 membros titulares e 27 suplentes. A leitura do requerimento significa que a comissão foi criada, mas não implica em sua instalação imediata –isso se dará apenas quando for realizada a primeira sessão da comissão. Para isso, é necessária a indicação de representantes pelos blocos partidários para a composição do colegiado.

Um dos mais cotados para assumir a relatoria da CPI do MST é o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP), enquanto a presidência ficaria com o deputado Zucco.

O objetivo da CPI é investigar as invasões de terra pelo MST, como seus objetivos e fonte de financiamento. Na prática, um dos objetivos é apontar o vínculo do movimento com o governo Lula, já que a frente que se mobiliza para a comissão é formada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

**2) O que motivou a corrida por assinaturas e a criação da CPI?**

O MST iniciou neste mês de abril o que chamam Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária com a invasão de fazendas, incluindo uma área que pertence à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além de sedes do Incra.

As ações provocaram reações não apenas do agronegócio, mas também do próprio governo Lula.

As invasões neste mês marcam o aniversário do massacre de Eldorado do Carajás, quando, em 16 de abril de 1996, 19 trabalhadores sem-terra foram mortos por tropas da Polícia Militar do Pará. O massacre é um símbolo nacional e internacional de impunidade, e as ações dos sem-terra desde então passaram a ser chamadas de abril vermelho.

**3) Quais são as preocupações do governo com a CPI?**

São basicamente quatro as preocupações:

O governo já sabe que não terá o controle da comissão. Nomes da oposição e do agronegócio devem ser escalados como presidente e relator da CPI; Quer evitar que deputados concentrem forças e atenções nessa e em outras CPI e deixem em segundo plano votações consideradas importantes pelo governo, como as novas regras fiscais e a reforma tributária, além de medidas provisórias na fila para votação antes que percam a validade; Tentar ao menos tempo proteger um aliado histórico e evitar que depoimentos e documentos da comissão sejam usados pela oposição contra o governo; Evitar que o desgaste com o funcionamento dessa e de outras CPIs atrapalhe os planos do governo para consolidar uma base aliada sólida tanto na Câmara como no Senado, algo que ainda parece distante.

**4) O que diz o MST sobre a CPI?**

João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, afirmou nas redes sociais na noite desta quarta que a CPI não tem um objeto definido e é “mais um palco para destilar ódio contra nossa luta”.

Já em entrevista à Folha ele disse que a direita vai usar o parlamento federal e as Assembleias Legislativas do país inteiro para enfrentar o MST. “Junto com isso, há os meios de comunicação deles, as fake news e as milícias armadas dos clubes de tiro e dos CACs [Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores]. É uma mistura demoníaca.”

“Essa CPI é preventiva sobre o futuro. Não é sobre o passado porque não há fato que a justifique. Nossas ações estão dentro do marco na democracia. Se o Congresso reafirmar essa CPI, será uma perseguição política. Nós vamos judicializar junto ao Supremo Tribunal Federal porque ela é inconstitucional.”

**5) Qual a relação de Lula, PT e MST?**

O presidente e o MST têm uma relação histórica, em geral de aliança, mas também recheada de atritos. No meio de seu segundo mandato (2007-2010), por exemplo, Lula foi chamado por eles de “traidor”. A relação depois ganhou peso com o apoio dos sem-terra a Lula na Lava Jato e nas eleições de 2022.

O movimento foi criado em 20 de janeiro de 1984 e, um ano depois, no primeiro congresso dos sem-terra, elegeu a sua primeira direção nacional. Esse primeiro comando dos sem-terra se formou com 18 homens e 2 mulheres. Eles e elas representavam os dez estados nos quais o movimento estava organizado (RS, SC, PR, MS, SP, RJ, MG, ES, BA e RO).

O presidente carrega um histórico de promessas de que faria a reforma agrária na marra e na “canetada”. Nunca fez. Em seus dois mandatos anteriores fez um programa simplista de desapropriar terras a esmo, criando assentamentos sem infraestrutura e longe das bases acampadas do MST.

Lula, por exemplo, nunca cumpriu a promessa de atualizar os índices agropecuários usados para medir a produtividade de fazendas passíveis de desapropriação para a reforma agrária.

Além disso, Lula tem uma dívida política com os sem-terra. Foram eles que ajudaram a liderar as mobilizações a favor do presidente no auge da Lava Jato e no período em que ele ficou preso na Polícia Federal de Curitiba. O MST também mobilizou suas bases para a campanha eleitoral do ano passado.

Redação / Folhapress

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