Grito de independência da “polarização tóxica”

Diego Amorim
Diego Amorim
Diretor-executivo da Novabrasil FM na capital federal. Jornalista entre os 10 mais premiados da história de Brasília. Autor de ‘Filho de pandemia’.
Diego Amorim
Diego Amorim

Não são só eles. Todos temos “culpa” pela polarização tóxica que afunda o país e impede a construção de projeto de nação. A imprensa — sim, é autocrítica —, por exemplo, aprendeu a adorar, em geral, a lacração com “urgentes” e “exclusivos” que acabam contribuindo para o embate permanente.

Do lado dos consumidores da notícia, querem (ou dizem querer) o fim da “polarização tóxica”, mas se incomodam quando a imprensa abre espaço para “políticos que odeio”, quando escutam análises diferentes, quando veem algum jornalista noticiando sem fazer caras e bocas e sem bater na mesa. Depois, querem democracia, paz e amor.

Eu, nos últimos anos, na dor, aprendi e me convenci do que não quero: não quero víscera, não quero ódio no fazer jornalismo, não quero lacrar, não quero fama, não mesmo (quem me conhece bem sabe). E, ainda assim, veja só você, dá para fazer um bom jornalismo, hein? Um bom jornalismo. E muitas vezes mais eficaz (mas deixa que a audiência o diga).

A prestação de serviço ficou para trás. A atualização do noticiário foi contaminada por achismos e opiniões pessoais puramente: sobre tudo e todos e a todo instante. As “boas” entrevistas viraram oportunidade para “viralizar” com ar de justiceiro. O microfone virou instrumento de vaidade em busca de uma áurea de pseudocelebridade.

Mas há quem diga com muita veemência que, se não for assim — com lacração e gritaria —, é “chapa branca” e o negócio se torna inviável. Balela. Jornalista tem que sair da bolha, tem que parar de achar (ou ter certeza de) que o mundo gira em torno dele, das pautas, dos furos, das repercussões e só. Há um mundo fora das redações, e muito mais acessível do que parece.

Fala-se muito (claro, com razão) de fake news, de teorias conspiratórias no zap, de desinformação em veículos não confiáveis. Mas não se faz autocrítica. Não se olha para dentro e para a forma rancorosa e pouco produtiva que se tornou o fazer “jornalismo tradicional”.

Eu, de coração, não sei qual o caminho. Podemos pensar juntos, sem a pretensão de encontrar solução fácil. É difícil não parecer ter um “ar professoral” neste meu desabafo público. Mas não quero estar “certo”. Longe de mim. Quero contribuir para refletirmos. Hoje, porém, estou convicto de o jornalismo raivoso, travestido dessa história de “ter um lado e escolher um nicho”, alimentou e tem alimentado uma sociedade igualmente raivosa. De novo: não são só eles; somos também nós responsáveis por tentar erguer esta nação independente, de paz e amor de que tanto falamos.

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