O chefe do Executivo tem desejos de ter cada vez mais poder. Ele já é avaliado pelos jornalistas políticos como um líder populista. Sabe falar a linguagem das camadas mais pobres da população, principalmente os operários concentrados em vários bairros da cidade. Ele se entende com os sindicatos e não fecha nem as portas do palácio, nem o cofre público para ajudar essas instituições. Em troca tem o apoio dos pelegos que organizam manifestações, as enchem de gente, confeccionam cartazes e picham as paredes dos muros de prédios públicos ou particulares. O governante também tem acesso às camadas mais abastadas da burguesia brasileira, é constantemente convidado para recepções na poderosa Federação das Indústrias. Sua habilidade de conviver com essas camadas da população é vista com preocupação pela oposição, uma vez que ele é eterno candidato à presidência da República.
A guerra desregulou a economia mundial. O bloco liderado pelos magnatas americanos é desafiado pela burocracia russa. Há uma tensão geopolítica no mundo e isto envolve também os países da Europa. Ninguém desconhece que há fome no mundo e as dificuldades de transporte de commodities, principalmente grãos, pode levar milhões de pessoas à morte, principalmente no continente africano. A produção industrial também sofre com as dificuldades de circulação de mercadorias e a falta de insumos. Com menor oferta no mercado mundial, os preços sobem. Países como o Brasil, de industrialização frágil, dependem da importação de manufaturados que pesam na balança comercial do país que, frequentemente, é deficitária.
O líder populista está de olho nas próximas eleições para a presidência da República. Sua popularidade é alta no estado mais populoso e economicamente mais desenvolvido, que é São Paulo. Sua base eleitoral. Muito atento às transformações que se processam no mundo das comunicações, faz um programa de rádio semanalmente, o “Palestra ao Pé do Fogo”. Uma cópia descarada do “Conversa ao Pé da Lareira”, usado por Franklin Roosevelt durante a recuperação da crise do capitalismo em 1929. Adhemar de Barros é o primeiro governante a usar o rádio para fazer o que ele chamava de “prestação de contas à população”. Isso é nada mais, nada menos que um disfarce para sua candidatura à presidência da República, marcada para 1950. No governo de São Paulo, se apresenta como um tocador de obras, principalmente na abertura de novas e modernas estradas e na construção de hospitais públicos. É favorito pelas pesquisas de opinião e o seu eleitorado o segue como um grande líder. Torcem por ele como torcem por um time de futebol: com emoção. É a vez dos paulistas voltarem para a presidência, diz a propaganda eleitoral antecipada. É um inovador. Dono de uma empresa aérea, é o primeiro político brasileiro a usar avião em uma campanha. É atribuída a ele a ordem de “para frente e para o alto!!!” Tudo parece que está no seu lugar, menos a concorrência do velho ditador, agora com a pele de democrata, Getúlio Vargas. Adhemar sabe que não tem chance, se alia a Vargas e retira a candidatura. Só não escapa de um editorial do Estadão que o chama de “rouba, mas faz“. O verdadeiro.