O caso Cuca e eu com isso?

Michelle Trombelli
Michelle Trombelli
Jornalista com quase 20 anos de experiência em reportagem, edição, produção e apresentação. Atualmente, é apresentadora do Mesa Pra Dois, na Rádio Nova Brasil FM e do Estadão Blue Estúdio. Já trabalhou na CBN, TV Band, Bandnews FM e na produtora Doc. Films, produzindo conteúdo especial para a CNN Brasil e para a CCTV da China. Vencedora de mais de 10 prêmios nacionais, entre eles Troféu Mulher Imprensa, Abecip, CNT e Vladmir Herzog de Direitos Humanos.
O técnico Cuca, do Corinthians, durante a partida contra o Remo, válida pelo confronto de volta da terceira fase da Copa do Brasil | Foto: Ettore Chiereguini/Agif/Folhapress
O técnico Cuca, do Corinthians, durante a partida contra o Remo, válida pelo confronto de volta da terceira fase da Copa do Brasil | Foto: Ettore Chiereguini/Agif/Folhapress

Vivemos em um mundo em que todos têm uma opinião, todas elas são vociferadas a todo momento, cheias de emoção e pouca reflexão.

Assim como a política, o futebol está longe de ser um campo racional. Na maior parte do tempo futebol é emoção e paixão. Mas o assunto que resolvemos abordar em uma das aberturas do programa Mesa Pra Dois em São Paulo, pouco tem a ver com futebol, tem a ver com viver em sociedade.

Esta semana, depois de classificar o Corinthians na Copa do Brasil ao vencer nos pênaltis o Remo, o técnico Cuca decidiu pedir demissão. Ele vinha sendo alvo de vários protestos nos últimos dias da torcida, sobretudo a torcida feminina. A indignação diz respeito ao fato de Cuca ter sido condenado em 1987 por um estupro coletivo na Suíça, quando ele era jogador do Grêmio. Apesar da condenação, ele sempre negou participação no crime. Negação mesmo diante do fato de o sêmem dele ter sido encontrado na vítima de 13 anos e ter sido usado como prova de acusação.

Ontem, ao se demitir, ele negou mais uma vez o estupro e disse que está sendo “julgado pela internet”.  

Para recapitular:

Alexi Stival – o Cuca – tinha pouco mais de 20 anos quando ele e outros três jogadores foram acusados do estupro em um hotel suíço. Apesar de condenado a 15 meses de prisão, ele não cumpriu pena porque já estava no Brasil na época da sentença e não poderia ser extraditado. Só que a pena também nunca foi cumprida por aqui. Hoje, o crime prescreveu. Realmente, atualmente, ele não deve mais nada à justiça. Certamente o Cuca de hoje é muito diferente do que era naquela época.

Mas, afinal, por que esse caso tão antigo foi reacendido de forma tão intensa justo agora? E justo com o Cuca, que, mesmo depois da condenação, teve uma grande carreira como jogador de futebol, depois como técnico, ganhou Libertadores pelo Atlético Mineiro, dirigiu grandes clubes brasileiros e internacionais?

Em vez de respostas, vale destacarmos algumas perguntas que nos ajudem a refletir sobre o assunto.
Será que é o fato de a torcida corintiana ser formada 53% por mulheres que causou tanto barulho?

Será que teve esse peso porque a torcida do Corinthians sempre foi reconhecida mundialmente por uma posição democrática e movimentos em defesa das mulheres?

Ou pode ser porque Cuca nunca se retratou publicamente pelo crime da juventude e reconheceu a gravidade do caso, ajudando no combate a todo tipo de violência contra a mulher?

Quantos panos foram passados para homens abusadores na história do esporte?

Ou será que é pelo fato de pouca coisa ter avançado até hoje e uma mulher continuar sendo estuprada a cada 2 minutos no país?

Talvez seja pelo fato de a sociedade ter avançado e não aceitar mais que uma pessoa condenada por estupro ocupe uma posição de liderança no esporte? (esporte pressupõe admiração e exemplo)

Não é momento de lacrar, cancelar, comemorar ou condenar. Mas refletir está sempre em tempo. 

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