O dragão da inflação não dá sossego para os brasileiros. Toda vez que alguém vai fazer compras no supermercado ou na feira livre, ele, mesmo sem ser convidado, dá as caras. Basta a pessoa comparar rapidamente o preço dos produtos essenciais da cesta básica para perceber que ele mudou. Para cima. A inflação não é democrática, ela é maior para as camadas mais pobres em tempo de pouca oportunidade de emprego, e está cada vez mais difícil obter renda para sustentar uma família. Popularmente se diz que, graças ao dragão, cada vez sobram mais dias no final do salário. Toda vez que o governo anuncia um plano, boa parte da população fica com um pé atrás. Várias tentativas já foram realizadas e muito pouco mudou. Dizem os jornalistas especializados em economia que a inflação no Brasil é estrutural, seja lá o que isso for. O que vale é o preço caindo e não subindo.
O debate se dá na mídia em geral, nas universidades, nos encontros de sindicalistas e empresários em geral. Uns atribuem a inflação aos gastos públicos, ou seja, o governo gasta mais do que arrecada. Para cobrir o rombo no orçamento põe para funcionar as máquinas da Cada da Moeda. Esta perde poder de compra com tanto dinheiro circulando na economia. Outros a atribuem à concentração de renda e aos rentistas, que nunca perdem com o seu dinheiro investido em aplicações que remuneram o capital acima da inflação oficial. O que se almeja é baixar a inflação a níveis aceitáveis, dentro de uma meta estabelecida pelo Banco Central. Ela precisa ser contida para que o Brasil deslanche economicamente, com a criação de mais empregos, abertura de novos negócios e aceleração do processo de industrialização. Algumas dessas metas vêm sendo repetidas há alguns governos. Até já foi carro-chefe de campanha eleitoral para a presidência da República.
Para a mídia, o atual ministro da fazenda é mais importante do que o presidente. Ele vem do meio acadêmico, considerado um pensador de esquerda, e nunca assumiu um cargo executivo antes. Junta um grupo de economistas da universidade e apresenta um plano que, segundo a equipe, vai, finalmente, pôr o dragão em uma jaula. O professor Fernando Henrique Cardoso lidera a equipe e tem o apoio do presidente do Banco Central, Pedro Malan. Apresentam ao Brasil o Plano Real, que mais uma vez vai mudar o valor de uma nova moeda. No início de 1994, a inflação estava em três mil por cento ao ano. As maquininhas dos supermercados são conhecidas de todos. É pegar o salário e sair correndo para comprar e chegar antes dela remarcar o produto na gôndola. O grupo cria uma espécie de dólar virtual, a URV, Unidade Real de Valor. A inflação não atinge a âncora fiscal, que é o dólar americano. Em pouco tempo desaparecem o U e o V e resta o Real, a nova moeda. Segundo os criadores, ela nasce sem a hiperinflação. A população não esquece que o dragão continua vivo na jaula e todo cuidado com ele é pouco.